foto de mulher card na ppstagem.

COLUNA INCLUSÃO DO ACOLHE
Por Laís Silveira Costa
Mãe, ativista dos direitos das PcD, sanitarista.

O capacitismo de ontem e o de hoje.

O documentário “O que tem debaixo do seu chapéu” mostra a riqueza da produção artística de um grupo de pessoas cuja vida é tradicionalmente diminuída e descartada pela sociedade. Narra também a historia de Judith Scott, artista renomada com esculturas exibidas no mundo todo. Ela, uma mulher com síndrome de Down e surda, não foi entendida, nem educada e não teve sua surdez diagnosticada. Ao contrário, foi afastada de sua família e institucionalizada por 40 anos em um lugar que não enxergou algo que para nós, em 2021, parece óbvio: é um ser humano cheio de potencialidades, e precisa ser tratada como tal. A historia de vida de Judith não difere da de tantas outras pessoas com deficiência que nasceram décadas atrás.

A narrativa é desconfortável para nós porque olhamos para um passado parcialmente superado. O capacitismo da época não existe mais; ao menos não de forma naturalizada. E justamente porque a sociedade evoluiu, nos estarrece ver Judith sendo tratada como se pessoa não fosse. A óbvia crueldade não encontra na família, que afastou a filha, um algoz, mas na estrutura societária que oprimia e descartava pessoas em função de uma pretensa disfuncionalidade.

Atualmente não naturalizamos escolhas como as retratadas no filme, mas o capacitismo persiste de outro jeito. Persiste ao negar o direito à educação de qualidade às PcD, ao negar recursos e planejamentos adaptados, ao manter ferramentas pedagógicas que excluem a diversidade funcional do ser humano. O capacitismo do presente é a manutenção da corponormatividade no chão da escola, e seu sentido de normalidade e desvio, naturalizando uma construção sociopolítica que valoriza um grupo em detrimento de outro.

O capacitismo a nos estarrecer no futuro será o documentário que retrata essa exclusão educacional, e também a profissional, marcada pelas condições desiguais de acesso e por uma meritocracia que, assim como no passado, exclui do convívio social muitas pessoas com deficiência intelectual, a exemplo de Judith. E nos priva de seu brilhantismo.

#descricaodaimagem
Em um fundo azul turquesa e branco, a mensagem: coluna inclusão AcolheDown. Com Laís Silveira Costa. O capacitismo de ontem e o de hoje. Com foto da autora e da filha.

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