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COLUNA INCLUSÃO DO ACOLHE
Comentário sobre o filme “O que tem debaixo do seu chapéu?”

Por Bianca Ramos
Gestora, especialista em políticas públicas e irmã da Karol.

Escolhi esse filme com o interesse específico de refletir sobre arte e deficiência, uma questão que me ronda há algum tempo.
Me assombrava, no entanto, a ideia de ver uma história contada pelos olhos de uma irmã. O quanto isso me faria refletir sobre os caminhos da relação que venho construindo com a Karol.
O filme reflete sobre as duas inquietações, e ao nos colocar mais perguntas que respostas constrói uma narrativa que se sustenta naquilo que retrata: a humanidade que nos une e nos diferencia a todas, todos e todes.
Poderia comentar sobre oportunidades, espaços de produção, mecanismos de chancela e reconhecimento, que se debatem diante das trajetórias apresentadas. A perplexidade do crítico, o constrangimento do artista. Poderia comentar sobre o que é e qual o lugar da arte em nossa sociedade.
Poderia comentar sobre lugar de fala, e uma aparente opção por sua impossibilidade. O incomodo de uma história que do início ao fim é contada na terceira pessoa. E neste passo a desumanização como precedente e surpreendente encontro:
“A enorme dificuldade de encontrar-se como humano num mundo que sufoca com alternativas e desafios e que costuma te ignorar quando você acredita ter se encontrado.”
(Será mesmo essa uma questão para os artistas ali apresentados? Será mesmo para eles um mundo de alternativas e desafios?)
Poderia comentar também sobre como fomos uma sociedade que segregava, uma sociedade que impediu uma família de, por décadas, celebrar a vida. E refletir sobre como evoluímos até aqui. Ainda que o aqui esteja longe do ideal compartilhado por quem milita por inclusão. Mas propor avaliarmos sobre como estamos coletivamente no permitindo optar por andar para atrás.
Mas quero comentar sobre as revistas. Sobre as janelas que Judy pareceu manter para o mundo. Sobre essas que ela entrega gentilmente para a irmã ao caminharem juntas. Neste ponto o silêncio é palavra. Nesse ponto está o que essencialmente me parece nos tornar humanos: a capacidade digna de amar e cuidar.

#descricaodaimagem
Em um fundo vinho e branco, a mensagem: coluna inclusão AcolheDown. Com Bianca Ramos. Comentário sobre o filme “O que tem debaixo do seu chapéu?” Com foto da autora.