4 criancas em pula pula.

Por Mariana Reade

Nessa foto três meninos sem deficiência brincam com uma menina com síndrome de Down. Para tirar a foto, me afastei e observei de longe. Nenhum dos três pediu para a menina sair do pula-pula. Eles pulavam mais alto e ela caía com facilidade. Mas continuaram ali os três, rindo e brincando. Caso nenhum dos três meninos nunca tivesse convivido com alguém com deficiência, a cena seria a mesma?

O Decreto nº 10.502/2020 assinado pelo nosso presidente alega que escola especial é liberdade de escolha. Será? Eu visitei 15 escolas, não me intimido facilmente. O ano era 2015 e mesmo tendo a lei ao meu lado, 13 escolas me responderam mal. Aquele tom que varia entre minha filha ser um incômodo, um prejuízo financeiro ou uma espécie de ET a quem só um astronauta da NASA seria capaz de ensinar.

Em uma resposta espetacular, fui perguntada pela diretora da escola sobre o que levava pais de uma criança com deficiência a escolher para a filha uma escola de excelência!

O que está em jogo no novo decreto é que a premissa de escola especial abre o precedente para escolas regulares aumentarem sua resistência para aceitar crianças com deficiência. Afinal, há que fazer um esforço para implementar a inclusão. E em um país de tantas escolas privadas, esforço significa custo. Mas estamos falando de educação, e não de qualquer business. E que sociedade seríamos vivendo em espaços segregados?

Assim como não percebemos facilmente o machismo e o racismo, posto que são estruturais, tampouco enxergamos o capacitismo, que é acreditar que uma pessoa sem deficiência “vale mais” que uma pessoa com deficiência.

Na escola da minha infância não havia nenhuma criança com deficiência. Pretos, me lembro de três em todo o meu ano. Não falávamos sobre diversidade. A escola progrediu, como a maioria da sociedade.

Em um dia de sol na pracinha, minha filha brincava quando ouvi de uma mãe que não era justo que famílias sem crianças com deficiência tivessem que dividir o custo que recai sobre a escola privada quando não se cobra o mediador da família específica. Respondi que era mesmo injusto, afinal a “loteria genética” é implacável e as famílias com crianças com deficiência precisam ter mais recursos financeiros para educar seus filhos!

Felizmente a mãe que cruzei na pracinha é minoria. Uma pesquisa encomendada pelo Instituto Alana em 2019 revela que aproximadamente nove em cada dez brasileiros acredita que crianças com deficiência em escolas regulares trazem benefícios para todos.

Uma pena que o presidente esteja com a minoria e não entenda que nós, as árvores, os animais, as florestas e toda a natureza no planeta Terra SOMOS diversidade.

Diversidade não há que ser defendida. É o que somos. Basta enxergar.