Superação e transformação

Conhecido por seu trabalho em educação inclusiva, o Instituto Rodrigo Mendes passou por importantes transformações que começam com a radical mudança na vida de seu criador.
Aos 18 anos de idade, um assalto deixou Rodrigo Hübner Mendes impossibilitado de controlar as principais funções de seus membros (tetraplegia). Antes um amante do futebol decidido a atuar como ortopedista, encontrou na arte o caminho para ressiginificar sua vida. Teve aulas de pintura e passou a explorar o potencial de suas obras. Posteriormente, com a renda de sua primeira vernissage, decidiu criar uma escola de arte para pessoas com algum tipo de deficiência.
“Oferecer novas oportunidades a pessoas em situação de vulnerabilidade. Essa foi a motivação que me levou a idealizar, em 19 de dezembro de 1991, a criação de uma escola de artes plásticas. Foi a data de minha primeira exposição, quando coloquei à mostra 60 aquarelas. Além de ser minha primeira aparição em público como artista plástico, esse momento representava um marco em minha trajetória, dada a quantidade de significados e emoções nele inseridos” (MENDES: 2010, p. 29).
Com o ímpeto de estender sua experiência pessoal, em 1992 foram iniciadas as aulas de arte em um espaço na Cidade Jardime, dois anos mais tarde, a escola se estruturaria como organização sem fins lucrativos em um local mais amplo.
Quatro anos depois do início das atividades, em 1996, há outra mudança significativa na história da organização. Ao invés de receber apenas alunos com deficiência, passa a atender todo tipo de aluno. “Entendemos que era preciso trabalhar com as misturas, pois havia um foco de trabalho sobre uma minoria, uma restrição a um determinado grupo.” contou Rodrigo Mendes para o Cmais Educação. Aquele era o início da educação inclusiva.
Para manter e ampliar o projeto, Rodrigo dedicou-se a estudos em Administração na Fundação Getúlio Vargas (momento oportuno no qual sua mãe se aposentara do cargo de diretora em uma escola municipal e assume a coordenação geral da escola). No segundo ano de estudos, vence um concurso que lhe permite usar 20.000 reais para a implantação de atividades de profissionalização e expansão. Também nesta época (1997), é efetivada uma duradoura parceria com a Tilibra, que começa com a criação de cadernos universitários com capas produzidas na Associação e textos sobre inclusão e arte na contracapa. Os investimentos em produtos institucionais não pararam de crescer e continuam levando o nome organização.
Outra forma de ampliar a receita e divulgar seu trabalho foi a realização de exposições de arte:
“Ao longo de suas treze edições, o evento ocupou espaços culturais nobres da cidade de São Paulo (Sesc Pompeia, Sesc Pinheiros, Sesc São Carlos, Memorial da América Latina e Espaço Mokiti Okada) e recebeu mais de 10.000 visitantes. Participaram como expositores mais de 1.200 alunos e foram expostos cerca de 1.500 trabalhos. A receita obtida com a venda alcançou cerca de 90.000 reais, dos quais 85% foram revertidos aos autores” (idem, p. 40).
A base educacional também teve aprimoramentos. Primeiramente pelas mãos de Christiana Moraes, que trouxe a abordagem triangular de Ana Mae Barbosa, seguido por Carlos Barmak e sua visão contemporânea do ensino de arte e depois por José Cavalhero, responsável pela reformulação do Programa de Arte-Educação que passou a ser chamado “Programa Singular”, fortalecendo a ideia da inclusão como desafio educacional. O direcionamento da Associação foi outro ponto que sofreu transformações. Além do atendimento a alunos, emergem as primeiras ações junto aos professores do ensino público.
A organização ampliou ano a ano seu alcance e transitou por diversos espaços (e ainda busca uma sede própria). Instalou-se no Brooklin, onde deixou de ser uma escola (Cursos Rodrigo Mendes) para, no ano de 1994, se consolidar como figura jurídica, uma organização sem fins lucrativos chamada “Associação Rodrigo Mendes”. Depois se mudou para Santo Amaro, Butantã e, atualmente, está instalada no município de Cotia. Em 2007, a mudança de diretrizes da organização, ora apontadas para pesquisas e estudos no eixo arte/inclusão, culminou com a troca do logo e do nome da organização para “Instituto Rodrigo Mendes”.
“O que nós temos hoje é um Centro de Estudos, cujo objetivo é construir conhecimento sobre educação inclusiva”, salientou Rodrigo ao destacar o atual paradigma das ações da organização. O Centro organiza seminários, desenvolve pesquisas, elabora publicações e, recentemente, criou um portal para troca de experiências chamado “DIVERSA” (leia mais).
Rodrigo contou ao Cmais Educação como estão organizados os programas do Instituto:
“Embaixo do Centro de Estudos temos três programas: o Singular, que atende diretamente aos alunos no campo das artes visuais; o Plural, um programa de formação continuada, cujo foco são os professores do ensino formal das redes públicas; e o Geração, voltado para a sustentabilidade da organização e geração de renda a seus beneficiários”.
“No Singular costumamos atender instituições sociais e alunos próximos do instituto (agora em Cotia, participam alunos de três escolas públicas e uma instituição). Inicialmente, apesar de termos um planejamento pedagógico anual, alguns alunos permaneciam por mais tempo, pois não havia uma data para encerramento do curso. Todavia, percebemos que este modelo limitava o acesso de novos alunos e, então, estruturamos um curso com duração de 12 meses”.
“No Plural, procuramos aprofundar a discussão sobre educação inclusiva. Foi em 2005 que começamos a sair do instituto e ir para as escolas públicas. Nosso conselho e nossos parceiros ansiavam por um impacto em maior escala daquilo que geramos como resultado. Pudemos com este programa aumentar a capacidade de atendimento, que o Singular já não permitia”.
Rodrigo acrescentou ainda que o programa Plural conseguiu atingir um grande número de educadores por meio de seu trabalho com organizações não-governamentais e secretarias de educação.
Por fim, o programa Geração, para atingir seus objetivos, “desenvolve e comercializa produtos institucionais e estabelece contratos de licenciamento com empresas. O programa é responsável também pela captação de recursos junto ao setor privado e aos demais agentes financiadores” (idem, p. 46).
Encerramos aqui este breve panorama, que procurou destacar que a história de transformações do Instituto Rodrigo Mendes está intrinsecamente ligada à vida de seu idealizador, refletindo sua incessante busca no aprimoramento do alcance e da qualidade da divulgação, pesquisa e prática de educação inclusiva em sua relação com a arte. A participação ativa junto aos professores do ensino público em específico e à sociedade em geral, com vistas a propiciar uma “educação que acolha as diferenças humanas e respeite os princípios de igualdade” (idem, p. 49), é o que faz desta uma admirada e respeitada instituição.
Fonte: CMais
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