Do pátio da escola para dentro
Colégios fazem parcerias com comunidade, abrem suas portas e reduzem violência. Pactos de disciplina também ajudam instituições
Por Aline Pires
Há um mês, a zeladora Solange da Silva Cardoso foi morta dentro do Colégio Benedito João Cordeiro, no Sítio Cercado. O caso é um exemplo da proximidade entre instituições de ensino e violência. Para se isolar da violência, muitas escolas estão indo além da construção de muros e colocação de câmeras: estão se abrindo para a comunidade. E algumas delas estão se superando – em especial na região metropolitana.
Há cinco anos, o professor Adão Aparecido Xavier, então diretor do Colégio Estadual Helena Kolody, em Colombo, resolveu criar o Fórum Permanente de Combate à violência para discutir o problema com a comunidade. A ideia surgiu após a morte de um ex-aluno do Jardim Monza. O rapaz cursava Marketing e estava voltando para casa com a namorada quando foi assassinado. No mesmo ano, outros cinco ex-alunos foram mortos.
A parceria com a comunidade surtiu efeito. A reunião de alunos, pais, líderes religiosos, comunitários e políticos gera uma multiplicação de ideias. E o resultado tem sido a redução da violência na escola de 1,8 mil estudantes. “Com o fórum viajei para diversas cidades do interior mostrando que não adianta jogar a discussão para baixo do tapete. É preciso acabar com a cultura do medo”, lembra Xavier.
Uma escola estadual no bairro Uberaba, em Curitiba, instalou grades de ferro na entrada para inibir a ação de vândalos. Mas foi quando passou a discutir o tema com as famílias dos alunos que as soluções apareceram. A participação dos moradores ajudou a conter a violência entre estudantes. E agora o debate está em via de chegar à sala de aula. “Os alunos ficam vulneráveis ao oferecimento de drogas por parte dos pequenos traficantes nas ruas, principalmente quando têm de passar pelo trilho do trem que divide o bairro”, explica o presidente da Associação de Moradores da Vila União, Altair Góis.
Para a superintendente da Secretaria de Estado da Educação, Meroujy Giacomassi Cavet, a parceria com a comunidade é o caminho para lidar com a violência dentro das escolas. “Precisamos ter uma gestão compartilhada e contar com todos no processo educativo”, afirma. Ela é categórica ao dizer que não adianta esconder os problemas de violência. “Temos de assumir o problema de frente.”
Vila Macedo em cores
Quem entra pelo portão de ferro, com cadeado, da Escola Estadual Vila Macedo, em Piraquara, não imagina que por trás dos muros, recentemente pintados, existe um mundo colorido. Cada parede é de uma cor. Os melhores trabalhos dos alunos da 5.ª série do ensino fundamental até o 3.º ano do ensino médio servem como adereços às paredes – ao lado de troféus e pinturas de flores feitas pelos próprios professores e funcionários.
No caminho, pode-se ver floreiras dividindo o espaço no pátio do recreio. Grafites multicoloridos ilustram o dia a dia de 758 alunos.
E isso é resultado de uma história de “amor”, como Gilmar Luís Cordeiro, 45 anos, denomina sua trajetória profissional. Ele é diretor da instituição há cinco anos e conta que já foi ameaçado de morte, passou por uma explosão na ala das salas de aula e teve os pneus do carro furados. Mas nunca teve medo, garante.
Ele procurou apoio na comunidade para aplicar uma fórmula simples, mas que exige firmeza: o aluno entra, faz fila e é encaminhado pelo professor até a sala, evitando aglomerações; o recreio é monitorado pelo diretor e professores; quem falta precisa cantar o Hino Nacional na frente da escola – o que levou à redução de, em média, 60 alunos atrasados para 15 por dia; a instalação de câmeras inibiu o vandalismo; a permanência constante de uma funcionária no portão de entrada, idem. “Eu cativei a comunidade e me faço respeitar”, festeja.
Há nove meses não há brigas internas nem externas. O dinheiro gasto na troca de 400 vidros de janelas que eram quebrados anualmente, em média, tem sido revertido para a revitalização da escola. A evasão escolar diminuiu. “Foi reduzida a violência interna e, com isso, os alunos e pais mantêm a confiança na escola”, explica. Para Gilmar, é importante que os alunos tenham em mente que seus atos têm consequência – o que passa do limite é registrado nos boletins na polícia. Em 2009, houve meia dúzia de ocorrências na Delegacia do Adolescente. Em 2010, quatro. Neste ano, nenhuma.
__________________
Fonte: Gazeta do Povo
Deixe uma resposta