Homofobia velada nas escolas
Pesquisa da UFPE revela que professores da rede estadual têm dificuldade de combater o preconceito
Para o estudo, que durou 10 meses, foram entrevistados professores de 45 escolas estaduais do Litoral ao Sertão. “Segundo os relatos, praticamente todos os docentes defendem o discurso contra a homofobia. Mas eles disseram que ainda há preconceito contra os gays na escola. A diferença é que hoje não há xingamentos explícitos”. Para surpresa do pesquisador, a prática da homofobia é mais comum em algumas escolas do Recife que nas unidades observadas no interior. “Quanto maior a proximidade da escola com a comunidade, maior a chance de haver reprodução de pensamentos homofóbicos. Isso foi visto nas escolas da periferia do Recife. Já em cidades como Tabira, no Sertão, percebemos que houve engajamento até do prefeito contra a discriminação”, justificou.
Luciano Freitas informou que a maioria dos professores ouvidos gostaria de trabalhar o tema da diversidade em sala, mas que esbarram na falta de conhecimento e de políticas públicas. “Muitos garantiram que até querem reprimircomentários preconceituosos por parte dos alunos, mas que não encontram respaldo da escola para desenvolver trabalhos pedagógicos nesse sentido”, comentou.
A secretária executiva de Desenvolvimento da Secretaria de Educação do Estado (SEE), Aída Monteiro, admite que acabar com a homofobia nas escolas requer tempo. “Trabalhar o preconceito não é uma tarefa fácil. Exige tempo pois envolve paradigmas culturais e religiosos”, opinou. Ela ressaltou que a SEE, no entanto, está tentando mudar essa realidade através da disciplina educação em direitos humanos, diversidade e cidadania, presente no currículo de mais de 50 escolas. “São 1.207 professores exclusivos para essa matéria”, garantiu. Para este semestre, a secretária informou que já agendou palestras em parceria com a organização não-governamental Leões do Norte.
Evasão – Os professores entrevistados na pesquisa também afirmaram que os alunos que se assumiam gays acabavam desistindo ou tendo o seu desempenho prejudicado por conta do preconceito. Durante as entrevistas, uma professora de Olinda afirmou que um aluno chegou a ser reprovado porque era gay. “Esse menino sofria na mão dos outros, foi emudecendo aos poucos. Eu sabia que tinha alguma coisa errada. Ele me disse que não aguentava mais ouvir gracinhas e piadas a seu respeito”, relatou a professora. Outra colega, de uma escola em Jaboatão dos Guararapes, ficou impressionada com a agressividade do discurso homofóbico de seus alunos. “Uma vez ouvi um menino dizer que os gays têm que apanhar. Fiquei assustada com tanta agressividade. Parecia que tinha sangue na boca”, contou. Os alvos da agressão abandonaram a escola.
Depoimento
“Sei bem o que essa pesquisa mostra. Abandonei a escola por conta do preconceito. Comecei a ser xingado pelos colegas quando tinha 16 anos e comecei a me vestir de mulher. Os professores até que tentavam me ajudar, sempre com uma palavra de apoio. Já que era discriminado nos banheiros, porque nem meninos nem meninas queriam que eu fosse ao sanitário deles, foram os professores que liberaram a minha entrada no banheiro reservado a eles. Apesar das reclamações, o pessoal da sala continuava a me massacrar, sempre passando na minha cara que eu era homossexual. Pior. Imitando meu jeito de ser. Na escola, era bom em ciências e queria cursar enfermagem na universidade. Mas sequer consegui concluir o ensino médio. Hoje não reclamo da minha vida. Mas me pergunto se teria seguido rumo diferente caso não fosse vítima de preconceito na escola.”
Darlen Gasparelly, cabeleireira, 40 anos
Preconceito
– Segundo os professores da rede estadual de ensino, os alunos são os principais responsáveis pela homofobia nas escolas
– Os docentes acreditam que os estudantes apenas refletem as opiniões preconceituosas de seus pais ou responsáveis
– Algumas escolas do interior se mostraram mais abertas à abordagem da temática contra a homofobia que as unidades localizadas na capital
– Os educadores são contra o preconceito, mas alegam que faltam políticas de estado que coibam essa prática
– Muitos se disseram a favor dos alunos gays
– Os professores admitiram que não sabem lidar com a homofobia porque não receberam capacitação específica
– Os trabalhadores de educação alegaram que o preconceito contra os gays influencia na evasão ou repetência
– O preconceito que existe nas escolas da rede estadual não é explícito, como acontecia há alguns anos, mas velado
– Os alunos que se tornam alvo da homofobia diminuem o rendimento escolar e ficam menos participativos em sala de aula
– Os docentes que se declararam gays disseram sofrer preconceito por parte dos alunos e pais dos estudantes
Fonte da matéria: tese de mestrado “As rosas por trás dos espinhos: discursos e sentidos na formação de professores em face do debate da homofobia”, do professor do departamento de Letras da UFPE, Luciano Freitas.
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Fonte de informação: Secretaria Especial da Juventude e Emprego – Governo Pernambuco
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