Moradores do “asfalto” e de favelas do Complexo de Manguinhos têm a mesma opinião sobre o preconceito contra aqueles que moram em favelas, considerado alto, aponta pesquisa realizada pelo Instituto Brasileiro de Análises Sociais e Econômicas (Ibase). A resposta “sim, existe muito preconceito contra moradores de favelas” foi escolhida por 78% dos 400 moradores de Manguinhos entrevistados, e confirmada por 74% dos 413 do “asfalto” (de todas as zonas da cidade).

Apesar disso, a pesquisa mostra que é grande o porcentual, em ambos os grupos, de moradores que declararam ter amigos do outro grupo (86% dos entrevistados em Manguinhos e 80% entre os do asfalto). Para a socióloga Fernanda Carvalho, coordenadora do Ibase, o “mito” da cidade partida é resultado do forte preconceito apontado pelo estudo. “A pesquisa mostra que existe profunda interação entre favela e asfalto, tanto nas relações de amizade quanto na vida cotidiana”, disse ela, ressalvando que na maioria das vezes a interação ocorre de forma “subordinada”.

Tanto em Manguinhos como no “asfalto”, os que revelam relação de amizade com pessoas do outro grupo são os que mais percebem o preconceito. Nas respostas, o preconceito contra moradores de favelas é maior do que o preconceito contra negros (que existe para 76% dos entrevistados em Manguinhos, ante 65% do outro grupo). Foi quase igual o (baixo) grau de concordância ante a afirmação “a favela é cidade”: 42% para os de Manguinhos, ante 41% para o outro grupo. Já em relação à frase “eu sinto medo quando passo perto de outras favelas”, o porcentual foi maior entre os moradores de Manguinhos (72,5%, ante 64%).

SEGURANÇA

A pesquisa, que será divulgada nesta quarta-feira (1º), mostra que a segurança pública é o serviço público mais mal avaliado: recebeu nota 2,9 (de 0 a 10), tanto em Manguinhos como no “asfalto”. Quase metade dos moradores dos dois grupos declarou já ter cancelado ao menos uma atividade por causa da insegurança em seu bairro. Mas a violência policial atinge mais aqueles que moram em favelas – 22% afirmaram que já foram vítima ou tiveram algum parente/amigo como vítima, ante 13% entre os do asfalto.

PAC – O estudo do Ibase aborda as obras do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) realizadas em Manguinhos. Estão previstos investimentos de R$ 265,4 milhões no complexo de favelas, onde moram cerca de 65 mil pessoas. A maioria (72%) em Manguinhos acredita que é alta a chance de o PAC cumprir seus objetivos na região. Já entre os do “asfalto”, a proporção cai para 41%. Nesse grupo, é alta a porcentagem (77%) dos que consideram o PAC “apenas obra de fachada”, afirmação corroborada por 30% daqueles que moram em Manguinhos.(AE)

Fonte: http://www.cruzeirodosul.inf.br/materia.phl?editoria=77&id=198289