Por Lucio Carvalho

Há 10 anos, a Inclusive aparecia pela primeira vez na internet. Muito antes da explosão das redes sociais, a Patricia Almeida criou um blogue para transmitir aos jornalistas todo o processo de negociação e votação da Convenção sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência. Na mídia impressa, principalmente, o assunto passava quase batido ou continuava a ser tratado como questão de assistência, bem ao contrário dos pressupostos da própria Convenção e, principalmente, das convicções dos seus principais interessados.

Não é errado dizer, portanto, que a Inclusive nasceu dentro desse espírito. E também acreditamos que não estamos errados ao afirmar que, ao longo dessa década, não se afastou dele em nenhum momento.

Olhando mais para a sociedade e para as pessoas do que para os desejos de governos ou interesses privados, algumas vezes, por isso mesmo, enfrentamos alguns conflitos e embates bem importantes. O site foi hackeado mais de uma vez, por exemplo. Houve também pedidos de direito de resposta prontamente atendidos. Até algumas ameaças judiciais aconteceram. Por outro lado, inúmeras vezes podemos colaborar com pesquisadores, entidades jurídicas, ONGs e até mesmo políticos interessados em balizarem-se pelos direitos humanos fundamentais, mais especificamente os tocantes às pessoas com deficiência.

Capturas antigas de tela da Inclusive sobrepostas
Capturas antigas de tela da Inclusive sobrepostas

Não foram muitas as caras da Inclusive nesse meio tempo. Um design básico, cuidando o máximo possível dos recursos de acessibilidade e usabilidade (notando que o fizemos sem qualquer ajuda externa ou assessoria técnica), no mais das vezes deu conta de abrigar as centenas de colaboradores que nos enviaram suas pautas, textos e demais conteúdos.

Por um tempo, antes que as redes sociais popularizassem os canais individuais, contamos com colunistas e comentaristas sobre questões atinentes ao direito, à educação, comportamento, políticas públicas e assim por diante. Se hoje não mantemos mais essa dinâmica, mas adotamos a que nos é possível, isso se deve ao caráter voluntário e não-lucrativo da experiência. Nunca podemos, por exemplo, remunerar um texto, mas acreditamos que o ganho maior é aquele que se reflete na comunidade, no aperfeiçoamento da vida social e no incremento da qualidade de vida das pessoas.

Dolorosa, em todo esse período, continua sendo a constatação de que nossa postagem mais lida e comentada ainda é (e continua a ser lida) uma que diz respeito à manutenção do benefício da prestação continuada (BPC). O que isso nos revela claramente é que todos os direitos devem em primeiro lugar obedecer ao princípio de dignidade da pessoa humana e que minorar os efeitos cruéis e devastadores da pobreza ainda é o desafio dos desafios para a sociedade brasileira e, sabendo disso, todos os esforços no sentido de minorá-la ou abreviá-la têm nosso total apoio.

De resto, talvez chegasse aquele momento de elencar nomes, situações, momentos, fatos a comemorar. Vamos tentar ser modestos nisso também, sem nunca esquecer de ninguém, é claro, mas pensando que todos os encontros que se deram aqui nos foram marcantes. Há pessoas que já se foram e muitas que continuam, além das tantas que sempre continuam a chegar. Isso é como propaganda da Mastercard: não tem preço. No caso, nós jamais teremos como retribuir quem formou nosso acervo e todos, absolutamente, hoje mais ou menos distantes, estão guardados nessa experiência de memória coletiva que sem querer nos tornamos.