varios paraquedas coloridos voando no ceu e um campo verde abaixo.

Por Fabio Adiron

“Um navio no porto é seguro, mas não é para isso que os navios foram feitos.”  William Shedd

Caro leitor: você chegou a esse texto movido pelo seu interesse pelas questões que envolvem a inclusão na escola. Caso não tenha sido interesse, pode ter sido pela necessidade o que, no final das contas, chega no mesmo objetivo.

Desse lado do papel ou da sua tela de computador está uma pessoa que há anos debate o tema e tenta propor caminhos que facilitem a sua vida e orientem como lidar com o assunto, do outro você. Professor, gestor, pai ou apenas um curioso. De qualquer forma, pessoas conversando com pessoas e, por isso mesmo, tomamos a liberdade de falar na primeira pessoa do singular, assim nosso papo fica informal.

Vamos começar?

Preconceito

Já que estamos a sós, não precisamos nos fingir de politicamente corretos, combinado? Eu tenho preconceitos, você também. Todas as pessoas são preconceituosas o que varia é que grupo incomoda cada um de nós. Para algumas pessoas cor e raça é um problema. Para outras é classe social ou nível intelectual.

O preconceito pode ser direcionado a pessoas com deficiência, pessoas com comportamento que julgamos inadequados, pessoas que tenham cometido crimes. São tantas as variações do preconceito como é a variedade do ser humano.

Não se ache uma pessoa vil por ter seus preconceitos. Freud já explicava que faz parte da natureza humana, segundo ele, ao contrário do preceito bíblico de amar o próximo como a si mesmo, costumamos amar o próximo desde que ele seja o mesmo que nós.

O problema do preconceito não é você preferir um loirinho de olhos azuis ou uma negra para namorar. Não é você ter amigos que gostem das mesmas coisas que você. Também não é você não querer ter os mesmos modos ou comportamentos que algumas pessoas.

O preconceito se torna um problema quando você impede que determinados grupos de pessoas tenham acesso aquilo que faz parte dos seus direitos inalienáveis como seres humanos, como talvez aconteça na sua escola.

O preconceito é um problema quando você se recusa a ensinar um aluno, partindo do princípio que pessoas “desse tipo” não vão aprender mesmo. Quando você faz isso, você está fazendo com que o seu preconceito fraude os direitos individuais. Isso deixa de ser preferência e passa a ser crime.

Diversidade

Já que concordamos que todas as pessoas têm direito à educação em todos os níveis, vamos conversar um pouco sobre quem são essas pessoas e o que é diversidade.

Afinal de contas, o que é essa tal diversidade que tanto ouvimos falar? Como é que ela se manifesta? O que isso implica na organização das escolas e das aulas?

Se formos até um dicionário vamos encontrar muitas definições. Eu não vou cansá-lo com semântica ou etimologia, mas aprendemos que existem duas maneiras de olharmos a diversidade.

A primeira delas parte da desigualdade natural que existe entre todas as pessoas. No entanto, os seres humanos possuem mais coisas em comum do que diferenças, ou seja, essencialmente somos todos semelhantes com pequenas variações.

A desigualdade natural muitas vezes é aparente, quando observamos apenas os aspectos físicos, mas também existem desigualdades naturais que não estão à flor da pele. De qualquer forma essa variação é objetiva, perceptível de uma forma ou de outra e não obrigatoriamente carrega consigo um juízo de valor.

Mas também existem as desigualdades sociais. Essas são socialmente construídas, estão carregadas de juízo de valor e podem mudar de acordo com o local ou com a época da história.

Esse julgamento social, estabelece uma hierarquia entre seres humanos onde alguns são considerados ideais e os demais são classificados em outros degraus da pirâmide. Esse pensamento é formado nas nossas mentes pela educação que recebemos em casa, na escola, nos grupos de amigos, uma transmissão que vem de longa data e se solidifica de tal forma que, mesmo que não usemos essa terminologia, olhamos para as pessoas como cidadãos de 2ª. 3ª ou 4ª categoria.

Pessoas que, nas nossas mentes, são inferiores, estão cheias de defeitos, afinal, não são iguais a nós. Quando encontramos uma pela frente, nosso olhar (ou o nosso pensamento) se direciona imediatamente para aquilo que esse outro tem de déficit, o que ele precisaria corrigir em si mesmo para poder se tornar um de nós – seres de primeira.

O curioso é que isso pode acontecer com você também: dependendo do lugar onde está, você pode tornar-se um ser de segunda ou de terceira, isso sempre variará segundo o ponto de vista.

Você acha que estou exagerando? Lembre-se da última vez que encontrou com um menino de rua ou com uma criança cega, sua primeira reação não foi de pena? Não olhou para os defeitos dessa criança antes mesmo de admitir que ela fosse apenas um ser humano?

Por isso que dizemos que esse olhar deficitário é um problema ideológico, o que se esconde atrás dessa atitude é a rejeição da diversidade como valor humano e a perpetuação dos preconceitos entre as pessoas, determinando a priori que essas desigualdades são insuperáveis.

Essa incompreensão da diversidade implica que os educadores pensem que os processos de ensino deveriam se dividir de acordo com a escala hierárquica que construímos na nossa sociedade.

Passamos a acreditar que é melhor que existam especialistas em lidar com crianças de rua, outros que entendam de pessoas com deficiência (na verdade vários, um para cada tipo de deficiência), pessoas que sabem ensinar em cárceres. Da mesma forma que, no passado, a sociedade defendia escolas separadas para meninos e meninas.

Antes, várias pessoas não tinham acesso à educação, pois eram vistas como ineducáveis; tempos depois, foi surgindo a preocupação pela sua educação, mas a segregação continuava pois tal educação era paralela à educação regular. Hoje, embora se proponha que todos os alunos devam estudar, preferencialmente, em escolas regulares, são muitos os que torcem seu nariz ao ver um aluno com transtornos de desenvolvimento ou com deficiência em salas comuns

Pior, como educadores, perpetuamos esse sistema de castas de aprendizagem. Chegamos até a defender que a escola pública é boa mesmo para os pobres. Isso não deixa de ser um reflexo da nossa própria crença de que a elite, por sua capacidade superior, deve conduzir esse monte de gente ignorante que existe por aí?

Ah…você está começando a perceber que o que você faz na sua escola é uma prática discriminatória. Que é uma forma de manter a tutela sobre aqueles que a sociedade considera inferiores? Espero que você perceba que é de dentro da sua sala de aula que essa construção histórica pode mudar. Que a escola pode e deve ser boa para todos.

É a cultura da diversidade que vai nos permitir construir uma escola de qualidade, uma didática de qualidade e profissionais de qualidade. Todos teremos de aprender a “ensinar a aprender”. A cultura da diversidade é um processo de aprendizagem permanente, onde TODOS devemos aprender a compartilhar novos significados e novos comportamentos de relações entre as pessoas.

Para isso, nada mais importante que esse compartilhar constante entre profissionais, familiares e comunidade. Um dos maiores entraves da prática docente é o cartorialismo da classe: há sempre 2 ou 3 que fazem seu trabalho de forma extraordinária, e outros 7 que o fazem de qualquer jeito.

A cultura da diversidade é uma nova maneira de educar que parte do respeito à diversidade como valor. E que traz no professor a emergência de seu potencial criativo e criador.

Tudo bem. Você ainda pode escolher quem vai namorar.

Fonte: http://xiitadainclusao.blogspot.ch/2017/02/preconceitos-e-diversidade.html