Fracasso escolar: deficientes ou desmotivados?
Flávia Colen Meniconi e
Isabel Campos Araújo Pádua
Alunas do 8º período do curso de Pedagogia da PUC Minas – Projeto de extensão
do Departamento de Educação em parceria com uma escola estadual, localizada
na periferia de Contagem
Este projeto foi desenvolvido com o objetivo de prestar assessoria
pedagógica a uma escola da rede estadual de ensino da periferia de Contagem,
no atendimento de alunos por ela diagnosticados como portadores de deficiências
mentais e disfunções neurológicas.
Neste relato de experiência, busca-se discutir as atitudes das instituições
escolares que, por não compreenderem as características individuais dos alunos e
os fatores intra e extraescolares que contribuem para o seu rendimento, acabam
utilizando rótulos como distúrbios para justificar o fracasso daqueles que não se
adaptam ao seu sistema pedagógico.
O trabalho iniciou-se com uma análise mais precisa do diagnóstico
apresentado pela supervisora da escola, no qual constava um percentual de 35%
de alunos supostamente acometidos de deficiências mentais e disfunções
neurológicas. O número era assustador. Ao estudar os relatos dos casos
particulares apresentados e a forma como eram tratados pela escola, descobrimos
grandes falhas. O que na verdade a equipe pedagógica da escola estava fazendo
era atribuir causas orgânicas a fatores de dificuldades de aprendizagem mais
facilmente removíveis, como: déficit de atenção, problemas no processamento da
informação recebida e comportamento social inapropriado.
Tal argumento comprova que a avaliação dos alunos apresentada pela
escola foi realizada sem qualquer padronização de normas, instrumentos ou
procedimento que levasse a um resultado coerente. Carregada pela imagem
negativa da criança da “classe baixa”, a escola estava transformando questões de
ordem social, que têm influência sobre as dificuldades encontradas no processo
tradicional de ensino/aprendizagem, em problemas de saúde mental.
Uma análise do processo pedagógico da escola e da sua administração
levounos a perceber que, na verdade, a prática escolar adotada era a responsável
pelo fracasso dos alunos. Ao lhes impor currículos elitistas, práticas de ensino/
aprendizagem desvinculadas de sua realidade e um sistema avaliativo que
rotulava de “doentes mentais”os que não se adaptavam a ele, essa escola
acabava por contribuir para o atraso do desenvolvimento cognitivo e afetivo de
grande parte das crianças.
O acompanhamento e a análise dos aspectos cognitivos e emocionais do
universo de 16 alunos do ensino fundamental possibilitaram construir um quadro
diagnóstico mais preciso dessas crianças. Para tanto, as alunas receberam
assessoria psicopedagógica de professores do Departamento de Educação para
avaliar fatores relacionados à maturidade/prontidão, defeitos sensoriais, prejuízos
motores, problemas emocionais e pedagógicos. No resultado da avaliação
estavam presentes apenas dificuldades relacionadas à falta de atenção,
concentração, de interesse e persistência para aprender, baixa-estima, falta de
confiança em si mesmas e desmotivação, o que as levou a concluir que os alunos
identificados como portadores de distúrbios ou problemas e dificuldades de
aprendizagem não apresentavam nenhum comprometimento neurológico.
No intuito de vencer tais dificuldades, as alunas desenvolveram um projeto
com essas crianças durante dois meses, utilizando atividades desafiadoras e
estimuladoras da criatividade, visando a vencer as múltiplas barreiras que
impediam o desabrochar de alguns aspectos da personalidade, como
independência, curiosidade e autoconfiança, e aspectos cognitivos, como atenção
e concentração. Trata-se de características básicas para o desenvolvimento do
pensamento e da busca prazerosa do saber.
Para o desenvolvimento do projeto, foram tomadas como referência as
atividades estimuladoras do potencial criativo de Wechsler (1993), especialista na
área da criatividade aplicada à educação. A partir dessa referência, foram
aplicados exercícios de analogias e metáforas, combinações forçadas, leitura
criativa com sons e imaginação figural.
O resultado desse trabalho centrado na exploração do potencial criativo dos
alunos foi, de fato, muito satisfatório, pois, segundo relato das professoras, eles se
mostraram mais interessados nos estudos, mais atentos nas aulas e mais
confiantes em si mesmos.
O sucesso do trabalho não resultou somente da experiência desenvolvida
com as crianças, mas também de todo um processo de mudança de mentalidade
dos professores e da equipe pedagógica da escola. Ao criar um ambiente de
aprendizagem atento às diferenças, motivador, encorajador e estimulador, a
escola conseguiu fazer com que seus alunos desenvolvessem o potencial
intelectual, guiados pelo prazer e o desejo de aprender.
Conclui-se que, de fato, é decisiva a contribuição das práticas escolares na
produção do fracasso escolar. Alunos rotulados como deficientes mentais nada
mais eram do que frutos do ensino homogêneo, incapaz de reconhecer as
diferenças e promover a aprendizagem atendendo às necessidades individuais de
cada criança.
Uma atitude responsável e comprometida seria organizar o processo
pedagógico dentro de um sistema educacional inclusivo, capaz de atender às
necessidades das classes populares numa perspectiva globalizante, levando em
conta seus conhecimentos, experiências, valores e a sua história. Para tanto, é
também imprescindível investir na formação dos professores e lutar para o resgate
da sua dignidade, traduzida em melhores condições de trabalho e, principalmente,
na conquista de níveis salariais compatíveis com a responsabilidade do trabalho
que exercem.
Esse é o começo para conseguirmos conquistar o paradigma da inclusão
social na vida educacional, redefinindo e reestruturando a prática educativa de tal
forma que ela seja capaz de acolher e trabalhar todo o aspecto da diversidade
humana representada pelo alunado. É o sistema educacional que deve adaptar-se
às necessidades de seus alunos, criando mecanismos para atender desde as
diferenças orgânicas e psíquicas às diferenças étnicas, culturais, sociais e
econômicas.
Referências bibliográficas
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WECHSLER, Solange M. Criatividade: descobrindo e encorajando. Campinas:
Psy, 1993.
ola,com relaçâo a publicaçâo posso dizer por experiencia pròpria o caso de minha filha com 10 anos nâo està alfabetizada ainda.consegui com ajuda da cartilha caminho suave o avanço para o nivel silàbico alfabético de escrita. minha filha foi rotulada quando necessitou de auxilio à falta de atençâo e motivaçâo para aprender. Na escrita nâo teve auxilio manual.Isto acontece com crianças normais sem deficiencia tambem. Sou a favor de voluntàrios auxiliares em sala de aula para auxiliar estas crianças com baixo desempenho e dificuldade no social. Paula