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O número de matrículas de alunos com necessidades educativas especiais em salas de aula regulares vem aumentando substancialmente, enquanto cai de maneira significativa nas classes e escolas especiais. Estes dados, revelados no Censo Escolar da Educação Básica de 2012, vêm ao encontro de um movimento defendido pelos pesquisadores do Laboratório de Estudos sobre Preconceito (LAEP) do Instituto de Psicologia (IP) da USP: o combate à segregação por tipo de escola ou classe. Em seus estudos, eles também analisam como essa inclusão está sendo feita no ensino regular, para que os obstáculos impostos a ela possam ser superados.

O livro Inclusão e Discriminação na Educação Escolar (Editora Alínea, 2013) é produto dos resultados obtidos em pesquisas realizadas pelo laboratório e conta com a contribuição de cinco autores: Cintia Copit Freller, José Leon Crochík, Lineu Norio Kohatsu, Marian Ávila de Lima e Dias e Ricardo Casco.

O que a obra busca analisar, mais precisamente, é o processo de inclusão e a discriminação que ocorrem em relação aos alunos com necessidades especiais. Tanto a discriminação quanto a inclusão, segundo o professor José Leon Crochík, podem ser realizadas pelos colegas, pelos educadores e até pelos próprios alunos com necessidades especiais.

Partindo-se do princípio de que a discriminação derivada de preconceito se opõe à inclusão, ela foi estudada em duas de suas formas: segregação e marginalização. A primeira diz respeito a deixar o aluno à parte do grupo de estudantes; a segunda, a considerá-lo como parte do grupo, mas, de um certo modo, à margem. “A hipótese do trabalho foi a de que escolas com mais condições objetivas de inclusão expressariam menos discriminação em relação a esses alunos”, explica Crochík.
Integrada ou inclusiva

São vários os métodos que podem ser aplicados na educação desse público. Em geral, são sugeridas mudanças nas formas de ensino e na avaliação, e não no conteúdo a ser transmitido – que deve ser adaptado, se for o caso, mas não diversificado. Há a distinção entre educação integrada, que simplesmente aceita todos os alunos e não se modifica para que efetivamente eles possam aprender, e a educação inclusiva que requer que a escola se transforme para atender a necessidade de todos.

Recentemente, surgiu a proposta da educação especial móvel, que se baseia na presença de um educador especial na sala de aula regular se responsabilizando pelos alunos considerados em situação de inclusão. No estudo realizado, apresentado nesse livro, observou-se que tal professor pode impedir um bom relacionamento dos alunos com seus colegas. Assim, esse método não parece ser propriamente inclusivo.

Alguns trabalhos têm demonstrado que alunos com deficiência intelectual, por exemplo, aprendem mais em sala de aula regular do que no ensino especial; outros mostram que ter como referência alunos sem deficiência também é um fator propício a um melhor desenvolvimento. A respeito dos demais alunos, Leon Crochík é categórico: “aprender a conviver com pessoas que têm mais dificuldades para estudar leva os alunos regulares a aprenderem mais e melhor, além desenvolver neles atitudes importantes para a vida e para o convívio social.”

No decorrer da pesquisa, quatro escolas paulistanas foram analisadas, duas públicas e duas particulares, todas consideradas de boa qualidade. Para atribuir o grau de inclusão de cada uma das instituições estudadas, foram utilizados questionários. Um sociograma foi aplicado para saber o quanto os alunos considerados em situação de inclusão eram rejeitados ou aceitos por seus colegas para algumas atividades. Foram feitas também observações em sala de aula e durante o recreio e avaliações dos alunos. Essa metodologia é apresentada no segundo capítulo da publicação.

Nas quatro escolas, algumas conclusões importantes se apresentaram. Em primeiro lugar, houve pouca diferença entre o grau de inclusão das instituições, mas ainda assim, as públicas foram consideradas mais inclusivas. Em compensação, nas escolas particulares, o aprendizado em geral foi melhor. Em todas elas, foram observados mais dados que revelaram inclusão do que discriminação, isto é, as escolas pesquisadas estão sendo, de uma forma geral, mais inclusivas do que discriminatórias. Além disso, determinou-se que nas instituições públicas houve mais marginalização, enquanto que, nas particulares, mais segregação. Finalmente, percebeu-se que o educador que é destinado exclusivamente ao aluno considerado em situação de inclusão auxilia no aprendizado, mas dificulta a relação com os colegas e com o professor da classe.

Por meio da pesquisa relatada, os autores buscaram identificar os obstáculos à implantação da educação inclusiva, para que esses sejam superados, contribuindo com dados empíricos e discussões teóricas, baseadas na teoria crítica da sociedade, para fortalecer o combate ao preconceito, expresso sob as formas de marginalização e segregação. “A educação inclusiva é um avanço para que a sociedade possa ser mais justa, e esta pesquisa é um esforço entre outros que precisam ser feitos para aprimorá-la”, defende o pesquisador.