Após 125 anos, crianças sentem que ainda há o que abolir: o preconceito!

Por Leila Gapy
no Correio do Sul
A Abolição da Escravatura, comemorada no próximo dia 13 de maio, aconteceu há 125 anos e ainda há, nos dias de hoje, o que se libertar! O preconceito é uma delas. Kathleen Cristina Alves Antunes, de 16 anos, sabe bem disso. “Esta data foi o primeiro passo em direção da igualdade racial no Brasil, mas ainda há muito que se lutar. O preconceito ainda existe”, conta ela que é filha de mãe branca e descendente de italianos, e pai negro, afrodescendente. Tanto é que, quando criança, recorda, sofria mais preconceito que hoje. “Já fui xingada de várias formas”, relata.
Preconceito esse que o pequeno Ariel Camargo Vaz, de 9 anos, já percebeu, apesar de não ser alvo. “Eu já vi alguns meninos xingarem os meus amigos negros. Eu fico quieto, acho feio. Só defendo quando eles brigam”, confessa. A pequena Isadora, de 9 anos, também conta uma visão semelhante. Afrodescendente, ela diz que já foi chamada por nomes feios. “Eu não gostei”, diz magoada, assumindo que, como sabe que hoje isso é proibido, recorreu naquela ocasião à justiça por meio da professora.
“Ela chamou a atenção dele e o suspendeu das aulas por alguns dias. Aí pararam de fazer isso comigo”, diz ela satisfeita. Para as crianças e adolescentes como Kathleen, Isadora e Ariel, que participam do Centro Cultural Quilombinho Sorocaba, a luta pelos direitos, pela igualdade e pela justa menção à história do povo negro, ainda é uma conquista diária. “Houve a abolição da escravatura, mas o negro ainda não é livre. Existem inúmeras formas de escravidão, prisão e preconceitos, como o da sexualidade, da religião. Há muito o que se lutar”, diz Kimberly Caroline Conceição, de 14 anos.
Ela é amiga de Gabriel Camargo, de 14 anos também. E foi justamente a exclusão que os uniu ainda mais. “Sou repetente na minha classe de escola e os afrodescendentes é que aceitaram ser meus amigos. Felizmente, como frequento o Quilombinho, a maioria dos meus amigos é negra e eu não vejo problema nisso”, diz Gabriel. “As pessoas fazem isso por ignorância”, acrescenta Gabriel de Lima Moraes, de 10 anos. Kimberly endossa, lembrando que seus antepassados foram iludidos quanto ao Brasil, quando na verdade estavam sendo traficados.
“O tráfico humano existe há séculos. Acho que temos que comemorar o 13 de maio, porque trata-se de um primeiro passo dado lá no passado. Mas ainda temos muito o que lutar hoje e a causa agora é mais ampla. Outras minorias se juntaram a nós, como pessoas que sofrem outros preconceitos, outros tipos de escravidão”, afirma. E Kathleen finaliza: “Uma pena que 125 anos depois da abolição ainda tenhamos tantos preconceitos a serem rompidos. Mas acho que a maior parte das pessoas sabem que os preconceituosos são ignorantes, pois somos todos iguais”, ensina.
Fonte: Cruzeiro do Sul
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