Jéfte Amorim Do NE10
Jéfte Amorim Do NE10

O pleito de 2012 tem de tudo para marcar a história eleitoral do País. Entre outras inovações e fatos importantes, a votação deste ano ostenta o título de primeira com validade da Lei da Ficha Limpa – responsável pelo impedimento de centenas de candidaturas Brasil afora – e com um Programa do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) especialmente direcionado às pessoas com deficiência.

O “Programa de Acessibilidade da Justiça Eleitoral”, instituído através da Resolução Nº 23.381/2012, propõe, entre outras frentes, a reserva de locais com acesso especial para quem tem deficiência ou mobilidade reduzida. Mas a inclusão dessas pessoas, que são minoria populacional (representam 2,4% dos pernambucanos, segundo dados do IBGE levantados em 2010), está além da acessibilidade.

“As ruas e os lugares com rampas e piso nivelado são importantes pra que a gente possa andar, mas coisas como trabalho também são importantes”, afirma Anderson José da Silva, de 33 anos. Recifense radicado no bairro de Santo Amaro, Zona Norte da cidade, ele nasceu com uma atrofia nas pernas, que dificulta a caminhada e o equilíbrio, e será presidente de mesa este ano.

Antes da atuação no próximo dia 7 de outubro, Anderson participou como mesário de outras duas eleições, além do referendo do desarmamento, realizado em 2005. “Eu gosto de trabalhar nas eleições. É um dia especial, divertido, a gente conhece pessoas novas ainda contribui com o futuro do país”, destaca, revelando que já se sente veterano no trabalho de facilitação dos votos.

“Eu me acordo cedo, no dia. E ganho ânimo porque, sempre que chego na Escola José Maria, já tem alguns idosos que, mesmo não sendo obrigados, são os primeiros a chegar”, conta. E quando questionado sobre a reação dos eleitores e dos companheiros mesário, ele é rápido na resposta. “É tranquilo. Alguns ficam surpresos. Às vezes ficam com cuidado demais, mas eu tenho força, brinco, jogo bola e trabalho como todo mundo”, diz.

Quanto ao trabalho no dia, ele diz que é tira de letra. “Dá prazer tudo tranquilamente, menos quando tem algo mais pesado pra carregar, como as mesas e urnas. Aí são os amigos que fazem o trabalho pesado”, brinca. Muitas vezes tido como coitado pela atrofia, Anderson faz questão de desfazer essa má impressão. “Eu sou feliz assim. E me sinto bem ajudando as pessoas a conseguirem votar”, enfatiza.

E o recifense não está sozinho. Apesar de a Justiça Eleitoral não ter dados precisos sobre a quantidade de mesário que portam alguma deficiência, outros casos são conhecidos em Pernambuco e no Brasil, como o da capixaba Helena Depollo, de 22 anos, que é portadora de síndrome de Down e será administradora de prédio no pleito deste ano.

A inclusão social, especialmente nesses espaços de decisão, é elemento fundamental para fortalecer o senso de cidadania e de igualdade não só de direito, mas de fato. E Anderson da Silva, que já trabalhou com atendimento em duas empresas de comércio na capital pernambucana, mas hoje está desempregado, frisa: “é importante dar oportunidade às pessoas com deficiência. Nas eleições e no resto do tempo, também, porque pouca gente abre as portas de emprego para a gente”.

Fonte: JC On-line – Blog do Jamildo http://img1.ne10.uol.com.br/repositorio/noticia/861d78403d71cbe6d48315b94de8d143.jpg