Logotipo Rio + 20 - Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável
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Por Izabel de Loureiro Maior

Ao falar sobre desenvolvimento sustentável, não consigo separar o componente humano do ambiental. O planeta poderia viver intocável sem os humanos? Não poderia! Sem nós o planeta estaria incompleto, pois somos parte do ambiente da Terra. Entretanto, há um aspecto que complica a equação da sobrevivência ambiental: o desenvolvimento irresponsável, desumano, desigual, injusto e predatório. São as corporações transnacionais que exigem o crescimento econômico desenfreado sem o desenvolvimento humano, resultante da inclusão social e a preservação ambiental. Surge uma pergunta inquietante: será que cada pessoa entende seu papel individual e importante no desenvolvimento sustentável? Podemos responder preocupados – não parece que saibam. A partir dessa dúvida, vamos nos ater ao segmento das pessoas com deficiência.

O mundo tem sete bilhões de moradores e poucos realmente conhecem o risco da associação ao incorreto conceito que o habitat é infinito. A grande parte ainda pensa que não é problema urgente conviver com o nosso hospedeiro, sem vivermos como parasitas sem juízo.

Uma parcela de 15% das pessoas que reside na Terra apresenta alguma limitação funcional, mas isso não precisa reduzir sua participação na vida do planeta. De acordo com as estatísticas de cerca de 80 países, um bilhão é o quantitativo de pessoas com deficiência (OMS/ONU, 2011). A maioria sobrevive na pobreza, com dupla vulnerabilidade, refém de discriminação, exclusão e da falta de oportunidades. São humanos empurrados para fora do desenvolvimento sustentável. As pesquisas específicas sobre sustentabilidade nada esclarecem sobre as condições de vida e as demandas das pessoas com deficiência. Por sua vez, os pensadores sobre inclusão social desse segmento pouquíssimas vezes estabelecem a relação entre as pessoas com deficiência e o desenvolvimento sustentável dos humanos e das formas diversas da natureza.

A Rio+20, Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável, deveria observar o que o preâmbulo da Convenção sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência, de 2006, diz: g) Ressaltando a importância de trazer questões relativas à deficiência ao centro das preocupações da sociedade como parte integrante das estratégias relevantes de desenvolvimento sustentável.”

Os países provavelmente discutiram de forma insuficiente a inclusão das pessoas com deficiência para o alcance do desenvolvimento sustentável. Mesmo ao considerar inclusão social como pilar da sustentabilidade, os documentos não mencionaram ou apenas enumeraram pessoas com deficiência, mas sem compromisso.  A promoção social, a educação e a saúde para essas pessoas não foi tratada. O trabalho, a capacidade de pesquisa e de proposição de novas tecnologias sustentáveis por parte das pessoas com deficiência ficou de fora da agenda da conferência. Nem beneficiários e tampouco agentes para o desenvolvimento inclusivo – um bilhão de pessoas não farão parte das metas que vierem a ser definidas pela Rio+20. Até quando esse contingente populacional permanecerá segregado do futuro que nós queremos para todas as pessoas? Ainda nos resta acreditar que o documento final da Rio+20 trará a responsabilidade e a iniciativa de cada país quanto às pessoas com deficiência.

Profa. da Faculdade de Medicina da Universidade Federal do Rio de Janeiro e consultora de políticas públicas, inclusão social e acessibilidade.

Fonte: Inclusive – Inclusão e Cidadania