Um TV fora de sintonia

Por Brunão
no Blog da Audiodescrição

Hoje tive a infelicidade de ler o artigo do sr. Luiz Antonio Giron em seu blog na área de cultura da Época Online. O artigo escrito por este cidadão com o título “A Dublagem” é o mais puro exemplo de preconceito e ignorância que qualquer um poderia ter sobre algo que não entende e desconhece.

De acordo com a ideia traçada por este formador de opinião, Editor da seção Mente Aberta da mencionada revista, a dublagem “está matando as legendas e a possibilidade de leitura”. O autor usa o argumento de que estúdios e distribuidoras têm optado por colocar nos cinemas mais cópias dubladas do que legendadas pois, segundo o mercado, a maioria consumidora assim o prefere.

Sob a luz deste fato, o autor acaba culpando a dublagem de matar os filmes com seu som original e legendados. Não entende por que esse fenômeno acontece. Prefere dizer que a sociedade está emburrecendo, deixando assim de ler as legendas dos filmes e, com isso, inferir que quem prefere filmes dublados é preguiçoso. Não sou eu que estou falando. Está lá no texto dele.

Se este senhor tivesse analisado a situação poderia ter comemorado o fato que demonstra que a economia do Brasil está crescendo e que a preferência dos filmes dublados é um sinal de que o povão, classe C, sempre ignorado e preterido, mantido como massa de manobra por elites abastadas, que nunca teve acesso ao cinema como forma de diversão, agora está tendo. E não seria forçando eles a terem que ler as legendas que eles passariam a gostar de ler livros e se tornariam mais cultos em razão disso. Isso se resolve com investimento em EDUCAÇÃO, que, aí sim, neste País é uma piada.

Gosto de lembrar que filmes estrangeiros, quando exibidos em países “evoluídos” como Estados Unidos, França ou Itália são SEMPRE dublados. O norte-americano odeia ler legenda. E isso não os tornou um povo burro, tornou? Eles deixaram de conquistar tudo o que conquistaram por não ler legendas nos filmes? Pelo contrário, é um dos países com grande número de leitores e produção literária do mundo.

O mesmo autor argumenta que “as versões dubladas” deveriam servir somente “às plateias limítrofes – e aos deficientes visuais” e que não acha que “dubladores devam ser banidos” pois, segundo ele, “o serviço deles é útil e, não raro, artístico”. E continua: “muitos desenhos animados da Disney ficaram melhores na versão brasileira, mas talvez isso seja menos uma afirmação racional que nostalgia”.

Primeiro: as versões dubladas também não são funcionais para um deficiente visual, pois o áudio estar dublado não quer dizer que ele esteja narrando o que acontece em um filme. O que o autor deveria apoiar seria a ampliação de mais versões com audiodescrição, hoje ainda tão raras nos cinemas e DVDs. Essas sim, funcionais para o deficiente visual.

Segundo: a dublagem feita por profissionais bem remunerados e compromissados com a profissão dá uma surra em qualquer interpretação de atores que só estão na televisão ou no cinema por terem um rostinho bonito. Não é porque o filme está no audio original que aquela interpretação é boa. Já vi diversas vezes um filme ser salvo por uma dublagem.

Terceiro: A dublagem não pode ser “tolerada” porque é um filme de animação. O argumento seria de que não se tem a referência da atuação original. Qualquer pessoa que se interessa um pouco mais por animação sabe que os grandes estúdios se baseiam na interpretação/dublagem prévia dos atores originais para criar os trejeitos, maneirismos e atuação dos personagens animados. Se você concorda que animações ficam melhores dubladas, então concorda que os nossos dubladores são melhores atores do que os originais pois tiveram que se basear em algo que já tinha sido criado e recriaram de maneira melhor em cima do que já existia.

Não estou dizendo que a dublagem seja perfeita. Existem seus problemas. E são vários. Principalmente a dublagem feita por pessoas nada gabaritadas, descompromissadas com a boa atuação, feita de forma barata e sem cuidado, como sabemos de casos de estúdios em Miami que se vendem a troco de qualquer centavo para apresentar um trabalho porco e mal feito.

E é aí que eu entendo que a discussão deveria chegar. O problema está, sim, residente na OPÇÃO que é dada ao consumidor final. Tudo bem que a maioria pode gostar mais de filmes dublados. Mas, e daí? E quem gosta de filmes legendados, tem que se virar? NÃO! Isso é que está errado. A discussão é essa! Não é colocar a culpa na dublagem, mas sim discutir que isso deve ser DIREITO DE ESCOLHA!

Temos é que unir forças para que TODOS tenham a chance de escolher o que querem ver. Se você chegou ao cinema e não tem filme legendado, reclame, esperneie, escreva para a distribuidora, DEIXE DE IR AO CINEMA! Quando as contas da bilheteria não fecharem, eles irão notar onde está o problema.

Então, por favor, não passe a odiar a dublagem ou querer que ela acabe porque você não está tendo acesso aos filmes legendados. A culpa não é dela. A culpa é de quem não nos dá a opção. Então lute pelos seus direitos!

Fonte: Blog da Audiodescrição