Menina dormindo sobre um livro. Ao fundo uma lousa verde

Por Alexandre Sayad
no Portal Aprendiz

Há uns doze anos, me surpreendi quando escutei de um político demagogo na televisão que a educação ruim, ela mesma, era o principal problema do Brasil. Não demorou muito para perceber que aquele sujeito tinha substituído em seu discurso a palavra “cadeia” por “escola”, por conta de uma estratégia de marketing político. Mas o fato em si não conseguiu ocultar uma boa nova: a percepção popular começava a mudar; educação não era mais papo de intelectual, ou seja, de poucos — tornara-se papo de “boteco”, popular. Começava a abrigar o inconsciente coletivo.

Mas começava aí uma outra questão que perdura até hoje: a esterilidade do raciocínio, ou seja, a falta de profundidade que a reflexão sobre a importância da educação ganhou na sociedade. De modo geral, a população sabe que ela deve ser prioridade para que o Brasil cresça forte; mas e daí? Na prática, o que significa isso, se contamos hoje com praticamente a universalização do ensino básico e uma sociedade que vive quase em pleno emprego?

Acompanhar a pífia cobertura midiática da votação do Plano Nacional de Educação (PNE) — e participar de seus debates — é necessidade de primeira ordem. O plano define objetivos claros para os próximos dez anos do tema. E as discussões fervem no Congresso Nacional neste momento.

A grande questão da política pública de educação hoje é como reter os estudantes numa escola de boa qualidade que lhe faça sentido, que lhe auxilie na vida. No fundo, lutamos contra a evasão escolar e o desvio de recursos. As políticas públicas federais devem focar nisso.

Na prática, precisamos atentar para três pontos na gestão educativa: (1) mais recurso, (2) qualidade na gestão desse recurso, e (3) inovação nas escolas. Só assim, formamos e pagamos melhor os professores e garantimos às escolas públicas autonomia e capacidade de inovação e, por consequência, retenção de alunos.

Comprometemos quase 6% do nosso PIB para pagar a dívida pública e questionamos se 7% do PIB para educação seriam suficientes. Angelo Vanhoni, que é relator do PNE na Câmara, diz que 7,5% está mais que bom. Estudantes e professores pressionam por 10%; adequado inclusive para acelerar nossos anos de atraso (média de países europeus e Estados Unidos, segundo a Unesco).

Mas só dinheiro não resolve a questão — é preciso boa gestão. O Brasil passou anos acentuando suas desigualdades sociais quando investia muito mais em educação superior, do que na educação básica. Essa defasagem diminuiu, mas não chegamos ainda a um número razoável de investimento. Os Estados Unidos investem a média de US$ 8,8 mil por aluno, nós não chegamos a US$ 1,5 mil, por exemplo.

Corrupção também estraga a educação. A Fundação Getulio Vargas (FGV) realizou inúmeros estudos relacionando baixo desempenho nos índices educacionais municipais, com corrupção na gestão das cidades. O mesmo índices dispararam quando o investimento em educação aumenta nos municípios.

Sim, o grande problema do Brasil é a educação — e boa parte da solução também. Para que essa máxima não se transforme em palavras etéreas, é preciso acompanhar e pressionar por um PNE digno dos nossos dez próximos anos. E esse é somente o começo do novelo embolado: a educação infantil, que tem sido prioridade em diversos países do mundo, parece ainda passar longe da agenda política nacional. Assunto para outro artigo.

Alexandre Sayad é jornalista especializado em direitos humanos, colaborou com /O Estado de S. Paulo/e Rádio Eldorado, e coordena programas de Civic Midia, com a Universidade de Harvard.

Fonte: Portal Aprendiz