Janus Korczak, precursor dos direitos da criança – uma vida entre obras
“Quando vejo numa criança a chama imortal do fogo roubado aos deuses, o brilho de um pensamento livre, a majestade da indignação, o impulso do entusiasmo, a melancolia precoce do outono, a doçura da caridade; quando observo sua dignidade amedrontada, sua busca corajosa, alegre e segura das causas e dos fins, todas essas tentativas maravilhosas, inclino-me humildemente, porque fraco e covarde, não me sinto digna dela.”
Janus Korczak
Da orelha do livro
José V. Aidegorn. Professor do Departamento de Ciências da Educação da Faculdade de Ciências e Letras da Unesp. Campus de Araraquara.
Janusz Korczak – nome utilizado pelo médico judeu-polonês Henryk Goldszmit (1878-1942) em seus escritos – foi um dos mais relevantes educadores do século XX, No Brasil, no entanto, sua obra é conhecida de forma fragmentada. Seu livro mais popular é Rei Mateusinho /, uma história aparentemente voltada ao público infantil, mas que muito diz de sua vida e de suas concepções. Outras obras – Quando eu voltar a ser criança e Como amar uma criança, onde estão presentes suas idéias sobre criança e educação infantil – originaram-se de seu trabalho pedagógico e destinam-se a um público adulto que é sensível à voz das crianças.
Menos conhecida é sua trágica história de vida, que terminou de forma heróica, ao preferir acompanhar seus alunos à morte nas câmaras de gás nazistas quando poderia ter se salvado. Também é pouco conhecida a sua defesa dos direitos das crianças, que teve no inovador Lar das Crianças um inspirado exercício de autogestão e grande respeito aos órfãos acolhidos, patente nas suas reflexões escritas em seus diários.
A originalidade e, sobretudo, a importância deste pequeno grande estudo de Ana Carolina Rodrigues Marangon é revelar, em seu belo texto, a integridade da vida e da obra de Korczak, que se identifica com o moderno conceito de infância surgido historicamente. e que utilizou sua trajetória pessoal e familiar para criar uma pedagogia que trata as crianças com uma consideração até então desconhecida.
Às dolorosas experiências de doenças e orfandade, de opressão polftica e de anti-semitismo vividas por Korczak desde os primeiros anos de vida somaram-se a participação no front da Grande Guerra de 1914-1918, os anos de crise do entre-guerras, a dominação nazista sobre a Polônia a partir de 1939 e o confinamento no Gueto de Varsóvia até a marcha (com suas duzentas crianças) para o trem que o transportou às câmaras de gás de Treblinka. Essa trajetória levou-o a traduzir a dor e a perplexidade com a perversão humana em que vivia em uma obra onde ressalta acima de tudo a tolerância e o grande amor às crianças e, por extensão, à humanidade.
Na análise dos três livros citados, pontuada por referencias às outras obras e diários de Korczak, a autora conduz o leitor a um pensamento pedagógico inovador e absolutamente necessário para um mundo que ainda não cumpriu a promessa iluminista dos direitos humanos e do seu elo mais frágil – os direitos das crianças.
Autor: Ana Carolina Rodrigues Marangon
ISBN: 9788571397927
Editora: Unesp
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