Dicas para agilizar sua navegação em sites com leitor de telas
Como muitos sabem, sou o criador e mantenedor do site do Movimento Livre, há mais ou menos um ano e meio. Nesse período aprendi muita coisa sobre programação, usabilidade e principalmente sobre acessibilidade na web. Fiz, e continuo fazendo, várias pesquisas sobre acessibilidade em sites e na internet de modo geral.
Essa experiência me fez entender de forma mais clara como os leitores de telas interagem com os sites, assim posso garantir pra você, que entendendo melhor como funcionam as páginas da internet você terá um desempenho melhor na hora de desfrutar um conteúdo.
As dicas e sugestões abaixo farão você agilizar a navegação em sites com leitor de telas. Essas dicas são uma junção de anos de uso de internet, aliado à meus conhecimentos de programação e à minha deficiência visual.
Os leitores de telas usados para criar esse artigo foram: JAWS, NVDA e Orca (Linux).
Estrutura de um site
Entender como é a estrutura de um site, pode nos ajudar a navegar melhor nos mesmos. Normalmente, sites e blogs seguem uma estrutura básica, é claro que pode variar um pouco, mas em termos gerais, temos uma estrutura dividida em quatro partes:
- Parte 1 – Topo: Como o próprio nome sugere, fica na área superior do site. Normalmente, seu conteúdo é composto por um logotipo e por um menu com links fixos, como por exemplo, página inicial, quem somos e fale conosco.
- Parte 2 – Menu Lateral: Esse menu pode ficar tanto do lado esquerdo, quanto do lado direito, e sua função normalmente, é agregar as principais áreas e sessões do site.
- Parte 3 – Conteúdo: Lugar onde é exibido os artigos, textos e matérias de um site. Normalmente, a área de conteúdo ocupa boa parte da área visível de um site ou blog, já que é o lugar onde o usuário vai focar sua atenção.
- Parte 4 – Rodapé: Fica na base do site, em geral, contém links com pouco destaque, como por exemplo, Política de Privacidade do site, Mapa do site, Ajuda do site. Também poderá haver informações gerais do tipo telefone, endereço e e-mail da empresa ou organização que mantém o site.
Como disse ali em cima, nem sempre essa estrutura é seguida à risca. Depende muito da proposta do site, mas todos seguem uma ordem natural, que é fazer o usuário começar a ver o site de cima para baixo, como em um livro. Afinal, você não começa lendo a página de um livro de baixo para cima, nem da última página para a primeira página, né?
E o seu leitor de telas, simplesmente faz isso, começa a ler o site de cima para baixo, passando pelo topo, menu lateral, conteúdo e rodapé. Simples assim, filho!
Agora que você já conhece a estrutura básica de um site, fica mais fácil entender as dicas que eu vou dar de graça pra você. Não, não, não! De graça não! Vou cobrar pelo menos um comentário no final desse artigo. Combinado?
Localize títulos e subtítulos mais facilmente
Assim como em revistas, livros e jornais, títulos servem para chamar a atenção do leitor. Geralmente, possui letras grandes e chamativas. Nos sites usa-se muito títulos e subtítulos, e na linguagem de programação usamos uma marcação chamada Heading (lê-se Rédin e em português significa Cabeçalho) para definir tais títulos. Esses títulos vão do nível 1 até o 6, sendo que o nível 1 gerará um título bem grande e o nível 6 gerará um título bem pequeno. É muito comum vermos os títulos dos artigos com o nível 1 ou 2 e subtítulos desses mesmos artigos em nível 2 ou 3.
Para encontrarmos títulos e subtítulos com um leitor de telas, basta usar a letra H (de Heading, óbvio!). E ainda por cima, nossos queridos amigos de fala sintética, nos informam qual o nível. “Título de nível 2 – Em busca da felicidade!”
Depois de achar um título, basta ir com a seta para baixo para ouvir o conteúdo tão desejado ou com a tecla Tab para encontrar links abaixo desse título.
Encontre menus rapidamente
Em muitos casos, os menus dentro de um site são organizados na forma de uma lista. Aí você me pergunta: Ricardo, igual lista de supermercado? Eu diria igual a qualquer lista que você precise fazer, mas vamos pegar o exemplo do mercado.
Vamos supor que você vá ao supermercado e precise fazer uma lista para comprar itens essenciais à sua sobrevivência: item 1 – bolacha recheada, item 2 – refrigerante, item 3 – batatinha frita e item 4 – Iogurte. (itens essenciais para mim, ok?). Se for o caso, você poderá criar uma outra lista, mas dessa vez só com produtos supérfluos (nem queira imaginar os meus!).
Enfim, os sites organizam seus menus , sejam eles dentro do topo ou na parte lateral, no formato de lista. E aí fica fácil saber que tecla no leitor de telas usar para localizar uma lista, né? Letra L para listas e letra I para itens.
Ao apertar a letra L, seu leitor falará se há listas no site, e se houver falará quantos itens tem dentro daquela lista, exemplo: “Lista com cinco itens”. Se houver mais de uma lista, o que é bem provável, tecle L mais de uma vez. Para navegar entre os itens de uma lista, tecle I ou Tab.
Observação: Nem todas as listas estão em menus e nem todas as listas são links. As listas podem fazer parte de um artigo, para classificar ou enumerar itens.
Fuja do Tab
Por favor, não vá ficar se matando apertando Tab para localizar os links de um site. É cansativo e dispendioso. Só aceito o uso do Tab em duas situações: Quando o link que você quer está no começo do site, perto ou no topo , ou no final do site, perto ou no rodapé. Nesse último caso, utilize SHIFT + TAB. Imagine navegar num site com mais de 100 links, e justamente o link que você quer está lá perto do final da página? Haja Tab hein!
Como alternativa utilize recursos que classificam os links, como por exemplo, a combinação INSERT + F7 do JAWS e NVDA.
Atalhos de Teclado
Conhecer atalhos de teclado, também conhecidos como teclas de atalho, é uma maneira muito inteligente de ganhar tempo em sites. Muitos sites possuem teclas de atalho personalizadas, que facilitam a navegação entre os links e funções internas dos mesmos. Nosso site possui essa função. Clique no link, atalhos de teclado do site para conhecer nossos atalhos de teclado. Procure conhecer também as teclas de atalho do seu navegador. E é claro, que conhecer os atalhos de teclado do seu leitor de telas é importante também. E aí você me vem com outra pergunta: Mas Ricardo, cada leitor tem seus próprios atalhos. E aí, comé que fica? De fato cada leitor possui suas próprias teclas de atalho, mas estamos falando de sites, e nesse quesito é necessário seguir um padrão, pelo menos no que diz respeito à elementos da página. Se o seu leitor foge desse padrão, não posso fazer nada! Apenas indicar novamente que leia o manual da criança.
Uma dica que acho importante, é fazer o que chamo de Teste de A – Z, que nada mais é do que, ao entrar em um site, testar na sequência as letras de A até Z e ouvir o que o leitor fala. Mas pra você não ficar boiando na sopa de braille, vou listar e explicar algumas das principais teclas abaixo:
Letra A: Localiza links do tipo âncora. Também conhecidos como links de salto. São links dentro da mesma página (de um ponto à outro);
Letra B: Localiza botões. Comuns em formulários;
Letra C: Localiza caixas de combinação;
Letra E: Localiza campos de edição. Útil para preencher campos de formulário do tipo: Nome, E-mail e etc;
Letra G: Localiza imagens;
Letra H: Localiza Títulos e subtítulos;
Letra I: Localiza itens de uma lista;
Letra L: Localiza listas;
Letra T: Localiza tabelas;
Letra U: Localiza links não visitados na página;.
Letra V: Localiza links visitados na página.
Acessibilidade atitudinal
Todos nós sabemos que a maioria dos sites não são acessíveis, mas isso não significa que você vai ficar parado, com cara de piso tátil, esperando que eles se tornem minimamente acessíveis. Posso criar polêmica com o que vou dizer a seguir, mas o primeiro passo para um site acessível, é o deficiente visual conhecer bem seu leitor de telas e minimamente seu sistema operacional e de como os sites funcionam. Adianta alguma coisa ter um site acessível, como o do Movimento Livre, se você não parar para conhecer seu leitor de telas e o sistema operacional que você usa?
Agora vamos supor que você seja o Rei do Virtual Vision, sabe fazer o garoto ler até hieróglifos, mas entrou em um site e não consegue fazer nada. Nada funciona. O que você faz? Se tiver alguém do seu lado, um vidente de preferência, peça ajuda para que ele faça uma pequena descrição de como é o site. Isso pode lhe ajudar um bocado. Tente também acessar o site com outro leitor de telas e/ou outro navegador.
Nunca se prenda à uma única opção. Se possível, instale outros leitores de telas e outros navegadores. Imagine se você só pudesse usar uma cueca durante toda sua vida?
Mesmo em sites conhecidos, procure alguém, por exemplo, aquele seu sobrinho chato e pentelho, que não serve para nada, e peça ao sacaninha para descrever o que ele vê na tela. Pode ser um exercício bem interessante tanto para ele quanto para você.
Se não tiver ninguém por perto, procure dentro do próprio site, links como Acessibilidade do site ou, como no nosso site, o link Descrição do site. Esse tipo de página contém várias informações bem legais e muito úteis sobre o funcionamento dos mesmos.
Sempre que tiver dificuldade, procure entrar em contato com o responsável pelo site. Normalmente, os programadores, além de loucos, são bem amigáveis e solícitos. Informe que é deficiente visual , que usa o sistema operacional x, o navegador y e o leitor de telas z, e que está com dificuldades para acessar o conteúdo por ele criado. Como disse, programadores são pessoas meio doidas e se sentirão motivadas em descobrir novas maneiras de programar seus sites.
“Acessibilizar pessoas vem antes de acessibilizar máquinas”
Para finalizar, lembre-se que sites e leitores de telas, são frios e calculistas. Eles só farão aquilo que você mandar. Se você souber mandar, dificilmente ocorrerá algo do tipo: Ricardo, apertei o H em um site, meu leitor de telas me xingou, desligou meu computador, botou fogo no meu quarto e ainda por cima acionou uma bomba-relógio com audiodescrição!
Fonte – Movimento Livre
Muito obrigado por publicar e divulgar meu texto. Fiquei extremamente feliz em ver um artigo em um site tão legal quanto o Inclusive.
Obrigado
Achei seu texto muito interessante, mas não me pergunte como vim parar aqui, porque nem eu sei! Antes disso eu estava lendo sobre sonoplastia… Enfim, ri muito com o seu último parágrafo (e estou rindo até agora), de alguma forma, ele ilustrou bem o que eu estava pensando mais cedo: em como nós não conseguimos passar aquele “Q” mais humano para as máquinas e derivados, elas simplesmente fazem o que as programamos para fazer sem questionar.
Por algum motivo sempre me interessei por temas que envolvem acessibilidade, talvez porque ache absurdo não existir uma preocupação geral e natural com isso. Esse texto foi um bom exemplo de como outras pessoas veem uma mesma coisa de formas diferentes. Eu sempre me peguei reparando na falta de tato de muitas pessoas e empresas que não facilitam muito, uns por não terem conhecimento outros por não serem “afetados diretamente”, acho isso ridículo, mas isso não vem ao caso… Gostei do seu artigo que sabe eu dê uma lidinha em outros deles.