Travestis realizam encontro regional por “oportunidades"
Fernanda França
A garantia constitucional da educação e a inserção no mercado de trabalho são apontadas pelos travestis e transexuais de Mato Grosso do Sul como as principais barreiras a serem transpostas pela classe.
Estes e outros assuntos, como segurança, saúde, previdência,direitos humanos, igualdade racial e de gênero e assistência social são discutidos durante o V Encontro Regional de Travestis e Transexuais da Região Centro-Oeste, que acontece de 24 a 28 de junho em Campo Grande. Uma mostra da organização do grupo.
De acordo com a presidente da ATMS (Associação das Travestis de Mato Grosso do Sul), Cris Stephany, se manter na escola, mesmo com todo o preconceito sofrido, é o maior desafio do momento.
Principalmente porque, sem instrução, fica praticamente impossível garantir um emprego digno e fugir da prostituição, atividade que a maioria destas pessoas acaba exercendo.
“A exclusão social, o preconceito, a violência e a não inclusão do mercado de trabalho resulta na questão de que as travestis acabem vivendo somente da prostituição, sem que seja um cidadão por completo”, alerta Cris.
A presidente da associação alerta que hoje não é possível encontrar travestis trabalhando em lojas e consultórios, como atendentes, mesmo tendo, muitas vezes, um currículo melhor do que de um heterossexual.
“Hoje você só vê travesti trabalhando de cabeleireira, como profissional do sexo ou às vezes como enfermeira concursada, por exemplo. Mas só 1% das travestis conseguem um trabalho formal, fora das ruas”, detalhou Cris.
Ela lembra que para conseguir passar em um concurso público, as travestis precisam de boa escolaridade, mas isso é quase impossível obter com o preconceito que sofrem dentro de sala de aula.
“São ignoradas, enxotadas, mal tratadas, e acabam desistindo de estudar. A maioria não passa da quarta série, tudo isso faz com que a pessoa se sinta um patinho feio e saia da escola”, afirmou, lembrando que a educação é um direito constitucional de todo cidadão e que o travesti paga impostos ao governo como qualquer outra pessoa.
Recentemente, houve uma polêmica, envolvendo o uso do banheiro feminino pelas travestis em escolas públicas do Estado.
Primeiro, a Secretaria de Educação autorizou o uso. Em seguida, com a polêmica em torno do assunto, o órgão recuou alegando que houve um “lapso” no comunicado que autorizava o uso do banheiro das mulheres.
Outro problema, relativo à falta de oportunidades para trabalhar formalmente é a previdência. Sem carteira assinada, as travestis não conseguem se aposentar, outro problema social enfrentado pela classe.
Ser diferente– A maioria das travestis descobre que é “diferente” já na infância. É o caso da corumbaense Jaqueline Pazzoliny, que já trabalhou 12 anos “na pista”, ou seja, se prostituindo, e que agora é uma multiplicadora de ações de controle da AIDS e DSTs (Doenças Sexualmente Transmissíveis).
Ela é presidente de honra da Associação Corumbaense dos Travestis e conta que seu primeiro brinquedo foi uma boneca. Na contramão da maioria, nunca enfrentou problemas em casa, quando revelou sua opção sexual, e sempre obteve o apoio dos familiares, principalmente da mãe.
“Foi ela que fez meu primeiro vestido”, detalha.
Lilith Prado, presidente da Astramt (Associação das Travestis de Mato Grosso), é profissional do sexo e conta que no Estado vizinho, a polícia e as autoridades respeitam a classe.
Um dos quatro locais “organizados” para o trabalho das travestis e prostitutas em Cuiabá chama-se “Zero KM”. São quatro quadras fechadas, onde há policiamento e segurança garantida a estas profissionais.
Uma das lutas das travestis do Mato Grosso é garantir o direito de ser chamada pelo “nome social”, ou seja, pelo nome feminino escolhido por cada uma.
O Conselho Estadual de Educação negou este direito e as travestis estão batalhando para reverter a situação.
Homofobia –Apesar da maioria das travestis declarar que as ações governamentais vem melhorando a segurança da classe, a homofobia existe e ainda faz muitas vítimas.
É o caso da travesti Bárbara Bismarck, esfaqueada por um namorado que se aproximou de caso pensado, para lhe matar, diz.
Após um relacionamento de 3 meses, Jacksander desferiu cinco facadas em Bárbara, enquanto ela dormia. Mas a vítima conseguiu sobreviver.
Ela era a segunda vítima do assassino, que agora está preso por ter assassinado, na seqüência, uma outra travesti.
Além das representantes de MS e MT, estão participando do encontro pessoas de Goiás, Brasília e do interior do Estado, totalizando 50 inscritas.
Também vieram proferir palestras a presidente nacional das travestis e transexuais, Giovana Baby, que é do Piauí, e Keyla Simpson, que da associação de travestis e transexuais de Salvador (BA).
Dois deputados estaduais participaram ontem do encontro: Marquinhos Trad (PMDB) e Pedro Kemp (PT), além do secretário de Justiça e Segurança Pública, Wantuir Jacini e de representantes das polícias Civil e Militar.
Fonte: http://www.campogrande.news.com.br/canais/view/?canal=8&id=257778
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