Educação e diversidade
O livro desatando nós, a ser lançado hoje na reitoria da UFC, reflete os fundamentos para que professores saibam lidar, nas escolas, com a Diversidade Sexual, ainda um dos grandes dilemas da educação no Brasil
Alan Santiago
alansantiago@opovo.com.br
especial para O POVO
26 Ago 2009 – 00h13min
A voz da professora se alteou indagativa e aflita: Como desatar esse nó? E pior: Quem vai querer fazer isso? O nó a que ela se refere – que antes permanecia resguardado sob a égide do silêncio – hoje parece um pouco mais visível, mas não menos enlinhado. Os corpos das escolas no Brasil, o docente e o discente, ainda se debatem, porque não sabem lidar com a diversidade dentro de suas paredes. Inclusive, a sexual. E foi exatamente essa metáfora, a do nó, que deu título ao livro, a ser lançado hoje às 17 horas, no salão de convivência da Reitoria da UFC, pelo Grupo de Resistência Asa Branca (Grab).
Desatando Nós: Fundamentos para a Práxis Educativa sobre Gênero e Diversidade Sexual é um desdobramento do trabalho na rede pública de ensino, capacitando professores para lidar melhor com alunos homossexuais e transgêneros. Oficinas essas que, ao longo dos últimos três anos, acabaram rendendo o livro e o diálogo acima transcrito. Os que palmilharem as 217 páginas da publicação, que sai pelas Edições UFC, na Coleção Diálogos Intempestivos, se deparam com seis artigos que tentam subsidiar uma abordagem mais pedagógica de temáticas que ainda parecem espinhosas para os docentes. Nas palavras de Adriano Henrique Caetano Costa, um dos organizadores do livro, as discussões nas escolas estão condicionadas sempre ao aspecto biológico para evitar gravidez precoce e doenças sexualmente transmissíveis. “Como é que você vai trabalhar desejo se não trabalhar coisa da ordem mais do acaso?”, questiona.
Segundo ele, uma pesquisa da Unesco com 14 capitais brasileiras tornou objetivo um dado que já podiam ser sentido empiricamente. “Fortaleza tem uma das escolas mais homofóbicas do País. Pais dizem que não queriam que os filhos estudassem com homossexuais e os alunos também não gostariam de estudar com eles”, acrescenta. A pesquisa foi decisiva na hora de resolver trabalhar com professores, certos casos vetores do preconceito, reforçando animosidades ou se eximindo. “O professor ouve os xingamentos e as agressões e o que ele quer é que os alunos voltem a ficar em silêncio para continuar a aula. Ele não vai ajudar a desconstruir a homofobia, porque é um tipo de formação depositária, de forma verticalizada, que não está interessada em ouvir o aluno”.
Para Adriano, só extraindo a sexualidade de uma ordem meramente privada e começando a publicizar a questão dentro da escola é que se pode passar a tratar os envolvidos como cidadãos que são. “Afinal, um menino gay, por exemplo, é, antes de tudo, um ser humano, que tem uma casa, uma vida e não pode ser reduzido ao fato de ser gay. A escola ainda não consegue ver esse todo”. O que ainda atravanca o caminho para maior compreensão e tolerância é a permanência de um viés ainda muito moralista e religioso. “É preciso que o conhecimento venha sem passar por esse discurso, mas que seja mais universal. O que é ser homem e ser mulher?”, diz Adriano para completar, em seguida: “Combater o preconceito tem que ser um trabalho do cotidiano da escola, que ainda é muito fechada para a sociedade como um todo, por isso precisamos debater muito mais. Mas é preciso também que vire uma política pública séria. Será que isso vai acontecer?”.
E-MAIS
> Os autores dos artigos são Alexandre Martins Joca, mestre em educação pela UFC; Francisco Pedrosa, presidente do Grab e mestre em Políticas Públicas e Sociedade pela UECE; Luís Palhano Loiola, doutor em Educação pela UFC; e Silvia Camurça, mestre em Sociologia pela UFPE.
> O livro é dedicado ao ativista Luís Palhano Loiola, assassinado ano passado na cidade de Crateús por motivações homofóbicas.
SERVIÇO
DESATANDO NÓS: FUNDA-MENTOS PARA A PRÁXIS EDUCATIVA SOBRE GÊNERO E DIVERSI-DADE SEXUAL – lançamento (26/08), às 17 horas, no salão de convivência da Reitoria da UFC (av. da Universidade, 2853). O livro será distribuído de graça. Outras informações: 3253 6197.
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Fonte de informação: O Povo on-line
Parabenizo a atitude dos/as organizadores/as do livro. Nós educadores/as necessitamos de material sobre o assunto para respaldar nossos trabalhos frente a temática…Abçs