Sob fundo branco, aparecem quatro círculos, dois em cima, dois embaixo, cada um com uma palavra escrita sobre ele. No primeiro, entitulado Inclusão, predominam bolinhas verdes, que convivem com amarelas, azuis e vermelhas dentro do mesmo círculo. No círculo entitulado Exclusão, as bolinhas verdes estão dentro do círculo e as bolinhas amarelas, azuis e vermelhas encontram-se à volta dele, do lado de fora. Na imagem Separação, no círculo grande estão as bolinhas verdes e em outro círculo menor, ao lado, aparecem as bolinhas vermelhas, azuis e amarelas. O círculo Integração traz bolinhas verdes e um segundo círculo menor dentro dele, onde se encontram as bolinhas vermelhas, azuis e verdes.
Sob fundo branco, aparecem quatro círculos, dois em cima, dois embaixo, cada um com uma palavra escrita sobre ele. No primeiro, entitulado Inclusão, predominam bolinhas verdes, que convivem com amarelas, azuis e vermelhas dentro do mesmo círculo. No círculo entitulado Exclusão, as bolinhas verdes estão dentro do círculo e as bolinhas amarelas, azuis e vermelhas encontram-se à volta dele, do lado de fora. Na imagem Separação, no círculo grande estão as bolinhas verdes e em outro círculo menor, ao lado, aparecem as bolinhas vermelhas, azuis e amarelas. O círculo Integração traz bolinhas verdes e um segundo círculo menor dentro dele, onde se encontram as bolinhas vermelhas, azuis e verdes.

A Revista Veja publicou em 31 de dezembro de 2012 coluna da escritora Lya Luft entitulada “O ano das criancinhas mortas”, em que faz referência ao massacre da escola de New Town, nos Estados Unidos, e à política de educação inclusiva.

O artigo provocou a manifestação de várias pessoas com deficiência, seus familiares, ativistas, profissionais que trabalham com inclusão escolar e público em geral, contrárias à opinião da colunista.

A Inclusive apresenta, abaixo, o texto em questão e um apanhado das opiniões sobre o posicionamento da autora e da revista que o publicou. Comentários e indicações de outras reflexões sobre o assunto são bem-vindos. Mensagens à revista Veja podem ser encaminhadas pelo email veja@abril.com.br

O ano das criancinhas mortas

| Lya Luft | Veja | 31/12/2012 |

Ao contrário do habitual, não escrevo sobre projetos, sonhos, depressões e culpas que para muitas pessoas caracterizam as festas de fim de ano. Não sou qualificada a falar do tema que elegi, a não ser como observadora das nossas glórias e misérias humanas: mas às vezes não dá para calar. Refiro-me ao que, tendo ocorrido há duas semanas, ainda me faz arrepiar a raiz dos cabelos: mais uma carnificina nos Estados Unidos, mais um demente solto a fuzilar gente inocente. Nesse caso, vinte criancinhas de 6 e 7 anos, e suas professoras (antes, a mãe do assassino). Já ocorreu neste nosso Brasil, embora, que eu saiba, uma vez ou duas, em uma escola no Rio, em um cinema em São Paulo. Já ocorreu numa escola na civilizadíssima Escócia e na mais civilizada ainda Noruega, onde um insano matou dezenas de jovens numa ilha sossegada.

Se nos Estados Unidos são frequentes essas matanças, por aqui morremos todos os dias nas ruas, nas casas, a tragédia é cotidiana: morremos mais aqui do que em qualquer guerra. Não sei se há muito a fazer, cada país tem suas características próprias, mas no caso dessas carnificinas por um desequilibrado deverá ser algo cirúrgico, rigoroso, ainda que sendo humano. Escapando de jogos políticos e outros interesses, o que é quase impossível, sobrepondo-se ao lastimável politicamente correto, o que exige coragem. Primeiro, precisamos de rigor no controle de armas. No Brasil e em outros países onde o narcotráfico é forte, a miséria grande e os vícios quase incontroláveis, compram-se armas de fogo por alguns trocados em qualquer beira de favela ou embaixo dos viadutos. Mesmo nos Estados Unidos, que mal saem do choque pela morte das crianças — um policial que chegou primeiro ao local, tendo servido em duas guerras, disse nunca ter visto carnificina igual à executada naqueles corpinhos — há quem batalhe duramente em favor do uso de armas. Teria a ver com liberdade, “qualquer cidadão tem de poder possuir armas para se defender“. Obama, na ocasião, indagou se a liberdade valeria tantas mortes. A arma usada pelo criminoso era de guerra, mas, segundo comerciantes, é uma das mais vendidas no país. Talvez seja uma pergunta ingênua, mas não seria melhor controlar isso de que precisamos nos defender em lugar de favorecer que qualquer um adquira armas pesadas?

Segundo, precisamos, sim, rever em toda parte nossos conceitos, leis e preconceitos quanto a doenças mentais. O politicamente correto agora é a inclusão geral, significando também que crianças com deficiência devem ser forçadas (na minha opinião) a frequentar escolas dos ditos “normais“ (também não gosto da palavra), muitas vezes não só perturbando a turma, mas afligindo a criança, que tem de se adaptar e agir para além de seus limites — dentro dos quais poderia se sentir bem, confortável, feliz.

Pessoas com qualquer tipo de transtorno mental devem ser cuidadas conforme a gravidade de sua perturbação, que pode ser leve ou chegar a estados perigosos para si mesmas ou para os demais — o que na maioria das vezes irrompe ou se agrava no fim da adolescência. Mas em geral, pela tremenda dor de termos um filho ou filha com tais problemas, fingimos que nada ali é “anormal“ (detesto essa palavra também).

É feio levar ao médico a criança com transtornos psiquiátricos, porque é feio desconfiar que um filho ou filha tem esse tipo de “problema“: é mais feio ainda aceitar tratamento (“remédios fazem mal“, “vacina me deixa doente”, “anticoncepcionais me atacam os nervos“). Pior que tudo, pensar em colocar mesmo nas melhores clínicas quem já não tem condições de viver e conviver com os outros na escola, na rua e até em casa. Parece ter sido o caso do jovem Herodes americano, que a mãe protegeu até onde foi possível, mas que, depois de a liquidar com vários tiros de arma pesada na cabeça, chacinou vinte inocentes criancinhas e seis professoras. Ao fim e ao cabo, chegando a polícia para interromper sua faina mortal, o rapaz se suicidou. Por alguns momentos, breves, o mundo respirou em relativa paz.

Lya Luft e o colunismo de Réveillon

Nas edições retrospectivas e prospectivas preparadas pelas revistas semanais, o que não faltam são análises e opiniões sobre os fatos marcantes do ano que fecha e suposições sobre o futuro que se aproxima imediatamente. Jornalistas e colunistas buscam apanhar do imenso cultivo de acontecimentos aqueles que julgam os mais relevantes, dentro do seu raio de observação, mas há quem tente ir além.

No caso da Revista Veja, é o que acaba de fazer a colunista e escritora Lya Luft. Lya, que previamente procura avisar aos leitores que não é alguém qualificado a falar a respeito do tema que elegeu, escolheu tratar em sua coluna dos assassinatos de crianças ocorridos nos EUA em 2012 (O ano das criancinhas mortas, p. 221, ed. 2302, nº1, 02/01/13). A escritora está longe de ter sido a primeira a abordar o tema e cabe indagar se existe, de fato, alguém especialista em morticínio infantil capaz de dar conta de tamanho drama. Seu aviso, portanto, deveria suavizar uma leitura mais rigorosa, mas empreender a tarefa resta impossível, pois o tema não é comercial de margarina e uma publicação com milhões de leitores também não pode ser comparada a um comentário inofensivo nas redes sociais ou um post em um blog remoto.

Mesmo considerando o salvo-conduto pretendido pelo aviso prévio da autora , é tranquilamente imaginável esperar encontrar-se uma análise emocional dos acontecimentos. Faz parte do espírito de fim de ano, do colunismo de Réveillon, tão impregnado de sentimentalismo. Além disso, o assunto é polêmico e envolvente, como tudo o que envolve a infância. Não é o caminho que Lya escolhe, pois ela tenta ir além das próprias emoções, como observadora do mundo, mas sem perceber ter dado passos aparentemente além da sua compreensão. Ela o faz ao mixar ideias envolvendo questões complexas como psicopatia, deficiência, doenças mentais e inclusão social.

Elucidar os mistérios da alma humana tem sido, ao longo do tempo, uma das buscas mais evasivas tanto para cientistas como para filósofos e escritores. Dentre as inúmeras possibilidades de abordagem, talvez a psicanálise seja o fazer que mais tenha se aproximado das bordas de onde se pode explicar o comportamento. Mesmo ela é contestada e, como se trata de um assunto intangível, não se pode pretender a primazia na emissão de opiniões. Todos estão convidados. Os colunistas das revistas semanais, pelo alcance de que dispõem, serão – entre todos – os mais visitados. Sua responsabilidade, entretanto, não pode ser exigida (afinal são convidados dos editores, não experts) mas despir-se dela como condição do inatingível é impensável, ainda mais quando se trata de escritores do porte de uma Lya Luft.

Ao induzir o leitor a crer que os brutais assassinatos de crianças ocorridos nos EUA tenha alguma ligação com a tendência atual, “politicamente correta” segundo a autora, de inclusão geral de alunos “anormais” entre “normais”, de acordo com seus próprios termos é, no entanto, uma suposição que extrapola a própria linha de argumentação da autora, além de reforçar estigmas e preconceitos que continuam a impregnar a sociedade no início do séc. XXI e, como se vê, em 2013 ainda estarão por aí.

Um esclarecimento urgente em relação ao texto de Lya compete em desfazer a ideia de que deficiência e doença mental sejam sinônimos. Parece simples verificar que uma coisa não tem nada ver com a outra, mas unir seus conceitos em uma mesma argumentação implica pensar que se tratam de pessoas indesejáveis para o convívio social. São pessoas que estariam, nas suas palavras, inclusive “não só perturbando a turma, mas afligindo a criança”. Outro esclarecimento fundamental para a compreensão do texto trata de verificar o que, de fato, uma afirmação como essa pretende explicar do tema principal, que é o terrível morticínio das crianças.

Até onde se sabe, o assassino de Connecticut não possuía nem diagnóstico de deficiência nem de transtorno mental. Apesar das inúmeras suposições, a tentativa de enquadramento clínico a posteriori de seu comportamento apenas tem servido para que se procure razões imediatas para seu gesto. Parece que, com isso, resolve-se o impasse. Uma das formas de evitar novos acontecimentos do tipo seria separar os “normais” dos “anormais”. Sob o pretexto de preservar a sociedade dos sadios, exclui-se o doente. Em que pese soar novo o argumento de Lya, tal ideia já era verificável na primeira metade do séc. XX e mesmo antes disso, com as políticas de segregação e institucionalização.

Embora isso não seja mencionado em nenhuma parte do texto, é relevante considerar que o “politicamente correto” de agora, a “inclusão geral” é um elemento garantido constitucionalmente no Brasil, que se quer uma sociedade inclusiva. Além disso, o princípio de inclusão social é base da Convenção Sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência, que o Brasil adotou como emenda constitucional em 2009, através do Decreto 6.949, após votação unânime no legislativo.

Se exigir que jornalistas e formadores de opinião estejam cientes dos avanços legais que envolvem minorias possa restar inefetivo, como se tem demonstrado, é algo que não se pode saber sem que se procure realizar um gesto nesse sentido. Há excelentes fontes de referência que estão disponíveis para aqueles que se dispõem a observar o mundo além da sua varanda. De alguma forma, parece que os textos de Réveillon pedem um toque de leveza que, no caso de um assunto como este, é bastante complexo de obter. Mesmo assim, é desejável que ao menos nesse momento de transição entre épocas, respire-se em relativa paz, como quer Lya Luft. Claro que não pela morte de todos os psicopatas, como se isso fosse possível, mas pelo conforto que se pode obter pelo esclarecimento, já que pela vida real nem sempre isto seja possível.

Lucio Carvalho – Coordenador-Geral da revista digital Inclusive – inclusão e cidadania (www.inclusive.org.br) e autor de Morphopolis (www.morphopolis.wordpress.com).
http://www.inclusive.org.br/?p=23960

Para Lya Luft ler

Resposta ao artigo de Lya Luft publicado na Veja desta semana.
Publicado em O Globo, Opinião, 03/01/2013:

Na minha opinião, com base no Censo 2010 do IBGE, que nos informa o percentual de 1,4% de pessoas com ?deficiência mental? (sic) severa, dentro dos 6,7% de pessoas com pelo menos uma deficiência severa, nos 23,9% de pessoas com deficiência na população total brasileira, considero que praticamente todas essas pessoas têm potencial e condições para serem incluídas ampla, geral e irrestritamente na sociedade, da educação infantil ao mercado de trabalho, sob pena de transformarmos a exceção em regra, prejudicando a maioria.

Na minha opinião, com base nas classificações de referência CID (Classificação Internacional de Doenças) e CIF (Classificação Internacional de Funcionalidade) da Organização Mundial de Saúde (OMS), que distinguem deficiência de doença, considero que não é admissível dizer que uma pessoa com deficiência tem uma doença, particularmente as que têm deficiência intelectual, que vulgarmente são chamadas de doentes mentais. No caso de deficiências não congênitas, como a minha, elas podem até resultar de doenças, pois foi um câncer, que ficou para trás, que levou à amputação da minha perna esquerda.

Na minha opinião, com base no Artigo 7 da Convenção sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência da ONU, ratificada no Brasil como emenda constitucional, que preconiza que ?os Estados Partes deverão tomar todas as medidas necessárias para assegurar às crianças com deficiência o pleno desfrute de todos os direitos humanos e liberdades fundamentais, em igualdade de oportunidades com as demais crianças?, considero que qualquer ação pela inclusão dessas crianças no ensino regular, de acordo com os preceitos da educação inclusiva, não pode ser considerada pejorativamente como parte do ?politicamente correto?.

Na minha opinião, com base em declarações de educadores e defensores da inclusão de crianças com deficiência no ensino regular, entre as quais destaco a de Romeu Kasumi Sassaki, consultor de educação inclusiva, de que ?o processo de inclusão não pode ser interrompido à espera de que todos os educadores estejam preparados para ensinar alunos com deficiência?, considero que o aprendizado dos educadores ocorrerá no enfrentamento dos desafios colocados pelas crianças com deficiência em suas salas de aula e, como nunca antes neste país, em cursos de especialização na área do atendimento educacional especializado (AEE).

Na minha opinião, com base na repercussão negativa alcançada pelas declarações irresponsáveis de uma psicóloga que analisou o caso de Adam Lanza, o jovem atirador da escola de Newton, nos EUA, num programa de TV em rede nacional de grande audiência, e disse asneiras como ?estão dizendo que ele (Lanza) tinha Asperger, um tipo de autismo em que a pessoa faz contato e às vezes é considerada inteligente?, considero que quem tem espaço para opinar nos meios de comunicação é obrigado a fundamentar declarações com implicações em áreas do conhecimento em que não tem qualificação, sem prejuízo da liberdade de expressão.

Andrei Bastos é jornalista com deficiência e autor do Blog Andrei Bastos http://www.andreibastos.com.br/blog/index.php/2013/01/03/para-lya-luft-ler/

A intolerância elitista de Lya Luft

Se há uma atitude que não dignifica o ser humano, esta é a falta de solidariedade.

Os programas sociais do governo foram, para muitos, um espelho revelador do elitismo que caracteriza a sua visão de mundo: “Para mim, sim; para eles, não”. Bolsa Família, Bolsa Escola, ProUni, Brasil Carinhoso, Brasil sem Miséria, Luz para Todos, Minha Casa Minha Vida, entre outros, foram combatidos pelos representantes desse elitismo, na grande mídia e no Congresso.

Esse combate refletiu a estranheza, o constrangimento e a revolta que muitos sentiam ao conviver, no dia a dia, com novos personagens em meios antes exclusivos:

“O que essa turma está fazendo no meu aeroporto?”

“O quê! Esta família vai jantar no meu restaurante?”

“Peralá! Shopping é lugar de passeio dessa gente?”

“O que o meu porteiro está fazendo na minha cidade estrangeira preferida?”

Um desses programas, baseado na visão solidária e inclusiva do mundo, acaba receber mais um petardo vindo de uma representante de um mundo que custa a perceber que já morreu. Uma escritora, uma intelectual que se orgulha do rótulo de “artista” (Lya Luft), escreve na edição mais recente da “Veja” (onde?), sobre a educação inclusiva, política pedagógica de convivência entre deficientes e alunos regulares, nas salas de aula:

“O politicamente correto agora é a inclusão geral, significando também que crianças com deficiência devem ser forçadas (na minha opinião) a frequentar escolas dos ditos ‘normais’ (também não gosto da palavra), muitas vezes não só perturbando a turma, mas afligindo a criança, que tem de se adaptar e agir para além de seus limites – dentro dos quais poderia se sentir bem, confortável e feliz”.

http://meufilhotemmielo.blogspot.com.br/2012/12/absurdo.html

Ou seja, “inclusão geral” é somente um modismo politicamente correto – e não uma expressão do espírito de solidariedade do ser humano. Deficientes são “forçados” a conviver com seus coleguinhas da escola tradicional e se “afligem” por isso. Falando por eles, a escritora afirma que se sentiriam “bem, confortáveis e felizes” se segregados do convívio com crianças da mesma idade.

Na verdade, a escritora está somente projetando seus sentimentos sobre aquelas crianças: é ela que se sente “forçada” a conviver com realidades que preferia evitar; é ela que se “aflige” e se “perturba” com essa nova situação; é ela que sente dificuldade em se “adaptar” a algo que está “além dos seus limites” restritos – dentro dos quais vivia “bem, confortável e feliz”. Um retrato perfeito do estrago que os novos tempos estão causando nos corações e nas mentes dos elitistas.

Por trás de supostos argumentos para defender direitos exclusivistas, vê-se claramente a imagem da tela de Edvard Munch, “O Grito”. Da boca da imagem desesperada ouvimos: “Socorro! O que eles estão fazendo com o meu mundo?!”.

No fundo, é simbólico: essa turma não consegue acessar sentimentos de solidariedade e congraçamento nem nas festas de fim de ano.

Um Ano Novo Solidário para todos.

Luis Nassif, jornalista, autor de Luis Nassif online
http://www.advivo.com.br/blog/luisnassif/a-intolerancia-elitista-de-lya-luft?page=3

Em resposta: Direitos e liberdade de expressão

Antes de qualquer coisa devo dizer que a liberdade de expressão é um direito. Em resposta eu e muitos outros escrevemos. Mas é preciso que os meios de comunicação atentem para o que publicam, porque a falta de responsabilidade pode causar sérios danos…

Sobre a reportagem publicada na VEJA, segue abaixo o meu rascunho, escrito na 2a feira.

———–

Em artigo publicado na revista Veja, a escritora Lya Luft utiliza de sua liberdade de expressão para refletir sobre o direito ao acesso e permanência na educação para as pessoas com deficiência, fazendo parecer inclusive que o direito vem sendo exercido apenas por ser politicamente correto.
Nesse ponto talvez não esteja de todo enganada, pois educação é direito central e fundamental para o exercício dos demais direitos, inclusive dos direitos políticos. É direito que não se pode dispor e, de acordo com a Constituição Federal, é dever do Estado, da família e da sociedade, porque não é correto deixar crianças e adolescentes fora da escola, e tanto o
Estatuto da Criança e do Adolescente e a Lei 7853/89 – artigo 8o quanto a Convenção sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência têm o mesmo entendimento, sendo possível afirmar que, além de crime é mesmo politicamente incorreto o não exercício do direito ou a sua obstaculização.

À parte disso, são muitos os dados que evidenciam os benefícios da educação inclusiva para pessoas com e sem deficiência e são muitas as políticas públicas implementadas com sucesso para garantir exercício do direito, mas a reflexão agora é sobre a liberdade de expressão, que fere o direito do outro, principalmente quando se trata de criança e adolescente. É sobre a utilização de meios de comunicação para expor opiniões que levam à exclusão social e ao aumento do preconceito e da discriminação, inclusive de classe.
Não se trata de politicamente correto ou de batalhas maniqueístas, falamos de pessoas, com todas as suas particularidades; falo de gente, seres humanos que podem ser prejudicados por reflexões inconsequentes.

E de fato estamos em período de matrícula nas escolas e muitas famílias já receberam um “não” direto ou indireto para o ingresso de seus filhos com deficiência em escolas das cinco regiões do Brasil, e é com muita dor que lidam com o fato; é com a dor de quem sofre discriminação e preconceito,
Dor que muitas vezes passa a pautar a própria vida. A escritora Lya Luft precisa saber que dói, e que as políticas públicas são de direito, porque é esse o paradigma e, principalmente, porque foram conquistadas por pessoas que sofreram a dor do preconceito e discriminação; seja a política de cotas raciais ou as políticas públicas de inclusão educacional, elas nada mais são do que obrigação do poder público para com aqueles historicamente discriminados.

Esperamos que os diretores de escolas públicas e privadas não levem a serio as reflexões da colunista e que tenham a certeza de que negar ou fazer cessar matrícula por motivo de deficiência é crime, está na Lei 7853/89 – artigo 8o, mas espero também que a escritora reflita sobre os seus conceitos e o seu direito de expô-los, quando isso pode afetar diretamente a vida de milhões de pessoas.

É preciso saber que o Brasil tem 45.000.000 de pessoas com deficiência e pessoas com deficiência não são pessoas com doença mental, muito embora a discriminação continuada e a exclusão de cada dia possa levar a isso. Não sei o que a escritora entende por demência, mas o fato é que a grande maioria dos crimes não são cometidos por “dementes”, outro engano da colunista, que faz parecer que cada um no seu quadrado resolveria o “problema” na escola e em toda a sociedade.
Lógico que as pessoas precisam do atendimento adequado da saúde, educação, assistência e de todos os setores, mesmo porque direitos humanos são inegociáveis. Aproveito para informar que o Plano Nacional dos Diretos das Pessoas com Deficiência Viver Sem Limite é outra conquista que envolve 15 ministérios, porque de verdade estamos avançando, e podemos avançar mais se o conservadorismo deixar de lado a sua intolerância e inconformismo com a
ascensão social de milhões de brasileiros, entre eles pessoas com deficiência e, ainda, como no meu entendimento, o conservadorismo que pretende deixar pessoas com deficiência em um quadrado é o mesmo que não demonstra
indignação diante das atrocidades ditas e cometidas contra homossexuais,

Devemos sim, unir forças para combater essa onda que há muito já deveria ter passado.
E sim, mais que possível, a inclusão educacional é uma conquista, uma realidade e principalmente um direito que não pode ser violado. À parte disso, reafirmo que os números evidenciam avanços que eu mesma inúmeras vezes presenciei em redes públicas e escolas que acreditaram e mudaram o paradigma, garantindo o acesso e permanência com todos os recursos
necessários para todas as crianças e adolescentes com deficiência. Mas quem tem vontade política faz e quem não tem diz que não é possível a matrícula em classe comum, mas esse ja é um outro assunto…

A liberdade de se equiparar o direito à educação ao politicamente correto gera revoltas legítimas e é preciso que as famílias transformem a sua indignação em ação, e que continuem fazendo acontecer cada vez mais. A promoção da manutenção da invisibilidade social , do preconceito e da discriminação está sempre a serviço de interesses, mesmo que pessoais, mas
é preciso que os meios de comunicação pensem em suas consequências e que, no mínimo, abram espaço para o contraponto.

Estamos falando sobre seres humanos, Pessoas que compõe a diversidade humana e que integram o imenso “quebra-cabeça” da humanidade. Não se trata de politicamente correto: Pessoas com deficiência existem, são gente! Pessoas
com deficiência têm direitos humanos!

Pais, mães, professores e gestores : não deixem de lutar pelos direitos dos seus filhos e alunos e não se deixem influenciar por posicionamentos pautados pelo preconceito.

Claudia Grabois – Advogada, Coordenadora do Fórum Nacional de Educação Inclusiva e da Rede Inclusiva Direitos Humanos Brasil, Membro do CONADE-SDH, da Comissão de Direitos Humanos da OAB/RJ e do Inclusão Já – Em defesa do direito à educação. Diretora de inclusão social da FIERJ. Ex-diretora de educação especial do Município do Rio de Janeiro, , ex-Presidente da Federação Brasileira das Associações de Síndrome de Down.
http://inclusaoja.com.br
http://www.inclusive.org.br/?p=23988

O caso Lya Luft

A parte todos os justificados protestos com relação ao artigo entitulado “O ano das criancinhas mortas”, publicado na Veja de 31/12/2012, a autora Lya Luft parece nos fazer um favor. Ela destaca bem em seu texto, sem muitas firulas, o argumento nazista e excludente de que pessoas com deficiência não deveriam frequentar a escola regular para não incomodar as pessoas “normais”. É raro alguém assumir essa postura sem eufemismos, o que Lya parece ter feito questão de evitar.

Na opinião da colunista, fica claro que crianças com autismo, por exemplo, não são desejadas na escola e que, mesmo sendo politicamente incorreto, elas não deveriam estar lá, pois “pertubam” a turma. Infelizmente, esse pensamento é reflexo do senso comum com que nos deparamos no dia-a-dia, muitas vezes com eufemismos e disfarçadas boas intenções, outras com deliberada cara-de-pau.

Não vou comentar a falta de coerência no texto de Lya, mas é bom notar que a lógica usada, não se restringe ao ambiente escolar. Ora, se a pessoa deve ser isolada na escola, ela deve também estar afastada dos outros espaços sociais, já que os motivos apresentados são mais que meramente pedagógicos: são pessoas que incomodam os ditos normais; são perigosas aos demais; e se aflingem pois são forçadas a ir além dos próprios limites.

Então, nessa linha de raciocínio, não se deveria mais impor a inclusão, igualdade de direitos e não discriminação como regra. Ninguém é obrigado a gostar de pessoas com deficiência, ninguém é obrigado a gostar de gays e ninguém é obrigado a gostar espinafre. Então ninguém deve ser obrigado a conviver com o que não gosta, não é?

A solução, talvez, seria fazer grandes campos de concentração, deixando todos os ditos normais (sem deficiência) livres da convivência com as pessoas com autismo ou com outras deficiências (anormais). Livres do fardo e do perigo! As pessoas com deficiência também estariam bem mais protegidas e aceitas lá, sem nenhum tipo de aflição, pois nada desafiaria seus limites, não é dona Lya? – Ela não gosta dos termos “normais” e “anormais”, mas como escritora não se esforçou para usar outros. Propositadamente incompetente?

Bem, essa é lógica que pune a vítima. É a idéia posta que estamos aqui para enfrentar. A concepção de que os autistas e pessoas com outras deficiências não merecem viver em sociedade.

Infelizmente Lya, Betty e Faustão só fizeram manifestar a expressão de um modelo social construído e impregnado no senso comum. O reflexo do que a sociedade, de uma forma geral, pensa sobre sobre o que é deficiência e o que é ser pessoa com deficiência. A idéia geral de que pessoa com deficiência, incluindo pessoas com autismo, são menos gente, tem menos direitos e que a segregação é medida de proteção, melhor para todos (ditos e não ditos normais).

Infelizmente muitos pais e autistas partilham desse sentimento comum e demoram para se reafirmar como sujeitos de direitos humanos. De todos os direitos humanos. Direitos esses, reafirmados constitucionamente na Convenção sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência.

Ainda bem que cada vez mais se fortalece a noção de que são as barreiras sociais – inclusive as barreiras atitudinais como o preconceito, a discriminação, a falta de apoio – os elementos que impedem a maior participação na sociedade das pessoas com deficiência, incluindo as pessoas com autismo e as pessoas com deficiência psicossocial.

Nesse sentido, as manifestações da mídia têm uma característica muito peculiar, pois elas influenciam e ao mesmo tempo são o reflexo das atitudes da sociedade. São formadores de opinião pública e também uma espécie de termômetro do senso comum.

Essas última matéria da Veja, assim como a desastrosa participação de Betty Monteiro no Faustão, deve servir alerta para nós familiares e autistas, para sabermos bem de que lado devemos estar e que posição devemos tomar. Nossa missão deve ser conquistar espaços para participação e para contínua mudança das atitudes sociais, refletidas nesse tipo manifestação nazi-fascistas que justifica o preconceito e a apartação.

Lya Luft e Betty Monteiro, por exemplo, dão argumentos para quem queria o artigo 7º do PLS168/2011 como estava, permitindo a impune exclusão de pessoas com autismo da escola regular, como medida de proteção. Ainda bem que nossa presidenta foi sábia e vetou, a despeito do PLS ter passado por unanimidade no Congresso. O que foi demonstração de compromisso com os direitos humanos das pessoas com deficiência, que foram celebrados na nossa Convenção.

Então, que esse tipo de manifestação preconceituosa nos sirva de lição. E que fortaleça nossa união na luta contra a apartação social das pessoas com autismo e com outras deficiências.

Alexandre Mapurunga – Presidente da Abraça, Associação Brasileira para Ação por Direitos das Pessoas com Autismo, e autor de Inclusão e Diversidade
http://www.inclusaoediversidade.com/2013/01/quando-o-preconceito-rege-o-pensamento.html

O caso Lya Lulft

Todos sabem – ou a grande maioria – que a Lya Lulf é uma grande escritora e colunista da revista Veja. Não nos prendemos em emaranhado de partido ou ideologia – mesmo o porque não existe esquerda ou direita e sim interesses – mas vamos ater no que ela escreveu numa coluna que quem era assinante leu em primeiro lugar. Assim foi:

“O politicamente correto agora é a inclusão geral, significando também que crianças com deficiência devem ser forçadas (na minha opinião) a frequentar escolas dos ditos ‘normais’ (também não gosto da palavra), muitas vezes não só perturbando a turma, mas afligindo a criança, que tem de se adaptar e agir para além de seus limites – dentro dos quais poderia se sentir bem, confortável e feliz”.

Primeiro erro da escritora foi criar um conceito de “forçar” a criança com deficiência a conviver com os ditos “normais”, que remete em tudo que o filósofo francês Foulcault escreveu. O que seria normal ou anormal? Essa discussão começa na idade media quando começa a ver de outra ótica a loucura – como forma de ser normal (raciocinando) e anormal (alucinado) – pois vários textos de Aristóteles tiveram esse contexto de se for perfeito, haveria grande chance de ter alma, se não fosse perfeito, não haveria de ter alma. Mas nem era culpa de Aristóteles – como filhos de sua cultura – ele era refém do pensamento da época e sabia só construir esse tipo de pensamento. Não vamos, também, nos ater em culpados e sim fazer uma investigação genealogia da moral e ética (longe de eu ser comparado com o mestre Nietzsche). A pergunta é simples porque nos remete a um conceito muito mais profundo da sociedade, porque sem sua moral construída por seculos de pensamentos, guerras, lutas e construções verbais, fizeram e fazem parte da sociedade humana.

O normal e anormal que a escritora fala vem do conceito de ser aceito ou não, uma conduta pode ser dita normal e não um indivíduo. Um indivíduo que trás uma deficiência não faz de seu comportamento diferente, trás uma limitação e não um comportamento. Não podemos dizer se a pessoa é normal ou não, só por causa de sua deficiência, isso já trás a discussão se esses escritores estão mesmo preparados em serem escritores, quanto mais, falar de assuntos desse porte. Se ela não sabe nem a terminologia de normal e anormal, muito menos saberá a terminologia de qualquer assunto que queira falar ou não. Nem é problema de ser petista ou psdebista, o problema que os assuntos sociais se banalizaram com a ignorância e a ilusão do povo, quanto menos, o segmento PCD.

A coisa fica grave quando ela usa o termo “atormentar a turma” como se você pedir para ir ao banheiro é um tormento ou pedir para pegar alguma coisa no chão. Eu, para dar um exemplo, estudei em quatro estabelecimentos de ensino e posso garantir, sem a menor duvida, que as pessoas até se oferecem para pegar ou para ajudar. Se atormentamos, se atrapalhamos, isso é bem disfarçado diante da turma, porque de maneira nenhuma, nenhum aluno reclamou do nosso comportamento nas salas de aula para o coordenador ou para algum professor. Então da onde a Sra Lya Lulf tirou tal afirmação? De onde vem essa avalanche de besteiras em um paragrafo? Ela é uma escritora, ela tem o conhecimento, não é uma ignorante de periferia. Vamos ser práticos, isso tem a ver com o governo e a politica, isso tem a ver com a “conversinha” fiada dos sulistas em nos trancar em APAEs, ou os nortistas em correntes, estamos cercados e se não fizemos algo, a coisa vai ficar feia.

Outra coisa…da onde a escritora tirou que crianças com deficiência afligem outras crianças? Fica mais ou menos aquela conversa de psicologo que diz que os infanticídios dos Estados Unidos da América são obra de pessoas autistas que são “forçadas” a frequentar escolas “normais” e sofrem algum bulling e nesse bulling se tornam psicopatas e matam todo mundo, é de dar risada até fazer “xixi” nas calças. Essas afirmações são de pessoas que são mal profissionais, existe nesse país muitos maus profissionais e isso agrava todas as áreas. Prédios caem, rodovias se despedaçam em buracos, bandidos a solta, musicas que só trazem desgraça, isso faz parte agora de nosso cotidiano graças as pessoas que assistiam aulas de faculdade alcoolizados e que não aprenderam nada das aulas, mas tiraram o diploma. Prova disso os médicos de hoje simplesmente, uma dor de barriga é virose, daí dá para ter uma ideia.

A escritora Lya Lulf – como Aristóteles e outros – são filhos de sua cultura, sua contemporaneidade fazem deles reféns de tais pensamentos. As próprias mães – nem todas é claro – tem esse tipo de pensamento onde enxergam as pessoas com deficiência como inúteis, como se elas não tivessem uma vida social, como se elas não pudessem ter tudo que qualquer pessoa possa ter. Isso é verdade, a fala de Lya nada mais é do que o pensamento de qualquer mãe, de qualquer família, de qualquer profissional de escolas especiais ou não, vamos atormentar, vamos atrapalhar, vamos limitar a conduta de uma sala em passeios e diversões. As brincadeiras não vão ser as mesmas, vão ter que adaptarem essas mesmas brincadeiras, vão ter que adaptar as mesas, vão ter que colocar pisos diferentes, vão ter que colocar interpretes ou legendas nas vídeos aulas. Isso requer dinheiro, isso requer trabalho e qualquer funcionário publico que se prese, não trabalha, quer tudo pratico e nem se esforça para ter o conhecimento de melhorar a vida e o convívio. Logico que nem todos são assim, mas a grande maioria o é. A história não me faz mentir com os espartanos, com os nazistas, com a própria igreja romana e seu conceito de perfeição. Ainda ficamos com esse estigma por que, em pleno século XXI?

Na geologia da moral que podemos fazer, voltando a “vaca fria”, temos que fazer um resgaste do conceito moral que se pode fazer disso. A moral são conceitos que fazem nossa criação familiar, uma moral religiosa é uma criação dentro da religião e é errado pensar que existe alguma ligação com a ética, pois não tem. Ética é algo muito maior e muito mais abrangente do que a moral, a moral é restrita a um conjunto especifico de pensamentos e regras, a ética abrange todos. Uma criança ser molestada sexualmente é amoral, um politico não aprovar leis que limitam essa pratica e levem esses sujeitos a cadeia, é anti-ético. As praticas são dependentes de nossa moral, o que aprendemos no “berço”, a ética aprendemos no convívio social e cultural. Questões de linguagem, porque somos o que conseguimos nos expressar e daí que tiramos uma analise de verdade do que a Lya Lulf disse, uma questão puramente moral e de pouca ética.

Por que digo isso? Se tudo é uma questão de linguagem, então até mesmo, as palavras que ela escreveu são seu mundo, é o que acredita e crê ser a verdade. Para ela – queira você ou não – a questão que colocou é verdade porque faz parte de seu conceito e se faz parte de seu conceito, faz parte de sua moral. Um pré-conceito é um pré-julgamento daquilo que “achamos” ser a verdade ofuscada por generalizações, o mundo constrói um ramo de opiniões sobre certos assuntos e entra dentro da moral de algum ensinamento; como judeu ser “pão-duro”, ou negros e índios serem preguiçosos, mas que remete a uma generalização. Nem todo judeu é pão-duro, como nem todo índio é preguiçoso. Nem toda pessoa com deficiência tem tormentos mentais ou sofrem de transtornos que fazem não raciocinar, nem todas as pessoas com deficiência não podem fazer as coisas que todos gostam ou fazem. Há, certamente, uma generalização diante de conceitos e preconceitos que nem sempre são sociais e por incluível que pareça, vem de profissionais na área. Os profissionais que trabalham com deficiências – como instituições como a AACD (citando a mais famosa) – tem um grau de preconceito muito auto. Com toda certeza, antes de fazer seu texto, Lya Lulf “bebeu” dessa fonte. Então o que esperar? O que esperar de uma revista fracassada como a Veja?

Como disse uma colega do segmento Marcia Gori: “Precisamos deixar de ser tão simplistas na visão social que acessibilidade se resume em barreiras arquitetônica”. Realmente é muito simplista colocar toda a acessibilidade só no meio arquitetônico – como vimos no texto da Lya – a questão da inclusão abrange até a semântica, as inúmeras figuras de linguagens, e outras coisas que também devem ser estudadas por quem luta por uma inclusão. Como incluir algo dentro desse algo? E se eu não quiser ser incluído dentro desse contexto? São perguntas que ninguém dentro do segmento sabem me responder, como se isso fosse tão difícil, se eu devo aceitar nomenclaturas que me é impostos nesse segmento. Ou se devo aceitar me incluir em uma sociedade que me rejeita…para quê devo me incluir? Como se eu fosse massa de manobra, não do governo ou da elite, mas do próprio segmento que existem certas pessoas que procuram fama e gloria. Nada de errado, acredito até ser valido, dês que seja honesto e deixe isso bem claro.

A vaidade de ser reconhecido e de ser percebido em tudo que fazemos, nem sempre é errado, temos que ser reconhecidos para saber se estamos agindo certo, quem diz o contrario é hipócrita ou é papagaio, nem sabe e nem analisa o que está dizendo. Por isso a importância de se estudar os conceitos e estudar os meios que se processam cada fala e cada escrito, senão não se sabe o porque o autor ou quem disse aquilo. Um colega do segmento disse uma vez que a maioria dos movimentos e ongs são papagaios e isso é verdade, ouvem a coisa, lê a coisa, mas nem sabem o contexto e nem o porque essa coisa se realiza. Repetem e é só, não diferente de Lya, eles somente ouvem o galo cantar sem ao menos saber onde esse galo está cantando.

Enquanto isso, tomo meu suco, como minhas bolachas e fico vendo esse espetáculo que é a batida de frente entre os movimentos. E a Irmandade? Entrará na briga na hora certa…

Amauri Nolasco Sanches Junior – Escritor/Filósofo/coordenador e cofundador da Irmandade da pessoa com Deficiência/técnico de informática/publicitário
http://serumdeficiente.wordpress.com/2013/01/01/o-caso-lya-lulf/

VEJA a ignorância!

O mail que eu fiz para o Diretor de Redação da Veja, diante do artigo que Lya Luft escreveu esta semana na revista.

Caro Diretor de Redação da Veja, boa noite!

A nobre escritora Lya Luft começou bem o texto, falando que não é qualificada para escrever sobre o assunto, aliás, foi a única coisa certa que ela escreveu!

A colunista faz algumas relações absurdas, sem nexo, fazendo com que o texto fique sem sentido, preconceituoso, levando mais ignorância para a sociedade. Ela defende a liberação de porte de arma e diz que ao invés de se preocupar com essa proibição, é preciso rever o conceito, as leis e preconceito quanto ao deficiente físico. Segundo Luft, o politicamente correto, hoje, é a inclusão geral, está na moda, para ela é um absurdo que as crianças com deficiência frequentem uma escola “normal”. Isso porque as outras crianças vão ser forçadas se adaptar, impedindo que elas sejam felizes.
Estou indignada com a publicação da revista Veja de um texto com preconceito, tenho paralisia cerebral, sou Psicóloga. Sempre estudei em escola “normal”, meus colegas de sala nunca foram prejudicados em suas vidas. Pelo contrario, eles aprenderam a lidar com a diferença, praticaram a solidariedade, sabem hoje que a pessoa com deficiência não é um E.T, mas sim um ser humano comum, mas, com certas necessidades.
Essas lições a senhora Lya Luft não sabe, não buscou saber e me parece que o mundo dela também não sabe, somente devem conhecer o mundo “ perfeito “.
Já fora da sua zona de conforto, do seu mundo idealizado, a colunista mostra seus sentimentos com relação as crianças com deficiência, ela não quer conviver com esta nova realidade, com um mundo que não é “ perfeito “, a nobre escritora quer evitar, pois a “aflige” e “perturba”, com essa situação, a inclusão; olhar sim para o diferente olhar para as pessoas com deficiência na rua, no trabalho, na escola, na balada, enfim na vida sem muros, sem segregação, sem diferença, sem medo! Estamos trabalhando para isso, entretanto com um artigo assim, na revista Veja, é um grande retrocesso!
Atenciosamente,
Carolina Câmara

Carolina Câmara – Psicóloga e autora do Blog Carolina – Un sonho a mais não faz mal
http://carolcam.blogspot.com/2013/01/veja-ignorancia.html?m=1

Lya Luft e o politicamente correto

Como todos já devem saber, Lya Luft escreveu, em sua coluna em uma revista de circulação nacional, um texto onde discorre sobre os assassinatos de Newtown.

Sinceramente, não tenho mais o que dizer sobre esse assunto…se ela tivesse parado nele. Mas ela fez menção à inclusão escolar e, sutilmente, à lei recentemente sancionada por Dilma Roussef, que reforça a necessidade das crianças autistas serem incluídas nas escolas regulares.

“O politicamente correto agora é a inclusão geral, significando também que crianças com deficiência devem ser forçadas (na minha opinião) a frequentar escolas dos ditos “normais“ (também não gosto da palavra), muitas vezes não só perturbando a turma, mas afligindo a criança, que tem de se adaptar e agir para além de seus limites — dentro dos quais poderia se sentir bem, confortável, feliz”, afirma.

“Politicamente correto” é coisa chata, só que não. Já repararam que, na maioria dos casos, quem reclama do politicamente correto é branco, heterossexual, neurotípico e não pertence a nenhuma minoria? Incrível isso!

E esse argumento, hein?! Que as crianças com deficiências vão ser “forçadas” a frequentar a escola regular? E terão que se adaptar e “agir para além dos seus limites”? Pôxa, Lya! Tenho que dizer que faltou originalidade aí! Esse foi exatamente o argumento usado por muitos conservadores, nos EUA, quando começou a discutir-se o fim das escolas para brancos e para negros. Que “isso seria ruim para os negros, que sofreriam muita discriminação se frequentassem as mesmas escolas dos brancos”. Ohhhhh!

Esse, também, é um argumento parecido com o dos que dizem que “mulher não deve mostrar demais o corpo para não correr o risco de ser estuprada”.

Pois aí é que está a questão: para vivermos bem em sociedade, o segredo é ensinar as pessoas a não serem racistas, os homens a respeitarem as mulheres e todos a respeitarem e aceitarem as pessoas com deficiência!

E, para encerrar, a escola é o lugar onde TODOS têm que se adaptar. As crianças educadas, as bagunceiras, as mais e menos inteligentes. É na escola que se molda o indivíduo para conviver com os demais. E é agindo além dos limites que superamos nossas dificuldades. Não vai ser diferente com nossos filhos. É adaptando-os ao convívio social – e adaptando a sociedade a eles – que terão alguma chance de se tornarem independentes e produtivos no futuro.

Portanto, sinto muito dizer que nossos filhos vão, sim, continuar “perturbando” a turma. E a sociedade. Até que tenhamos um país realmente inclusivo, que saiba conviver com as diferenças e aprender com elas.

Andrea Werner Bonoli, mãe de uma criança com autismo e autota do Blog Lagarta Vira Pupa
http://lagartavirapupa.com.br/blog/tag/lya-luft/

Mais algumas opiniões foram postadas no site Com Texto Livre e podem ser lidas no link abaixo, e nos comentários dos links dos artigos publicados acima.
http://contextolivre.blogspot.com/2013/01/a-intolerancia-elitista-de-lya-luft.html

Aproveite para firmar e divulgar o abaixo-assinado pelo cumprimento da Convencao sobre os Direitos das Pessoas com deficiênica, especialmente no que diz respeito ao direito a educacao inclusiva

http://www.peticaopublica.com.br/?pi=INCLUSAO