O mapa do Brasil feito por alimentos desenhados a giz em um quadro negro
Imagem: Mercado Ético

Glenda Almeida, da Agência USP

Pesquisa da Faculdade de Saúde Pública (FSP) da USP aponta os fatores que mais influenciam a possibilidade de mobilidade social no Brasil, indicando o desenvolvimento dessas possibilidades ao decorrer do último século. No caso brasileiro, estudos ainda constatam considerável disparidade dos ritmos de desenvolvimento da escolaridade e do estado nutricional.

A nutricionista Larissa Galastri Baraldi, autora da dissertação de mestrado Estado nutricional, escolarização e mobilidade social no Brasil utilizou três inquéritos nacionais para sua pesquisa: Estudo Nacional de Despesa Familiar (ENDEF-1975), Pesquisa Nacional de Saúde e Nutrição (PNSN-1989) e Pesquisa de Orçamentos Familiares (POF-2003), todos do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

De acordo com os dados analizados, as vantagens observadas na situação nutricional e na quantidade de anos estudados pelos filhos, relativamente aos pais, não se traduziram em maiores chances de ascensão social. Para chegar a essa conclusão, duas questões iniciais foram propostas: a situação de nutrição e escolaridade dos filhos é superior a dos seus pais? Se sim, essa mudança apenas acompanhou a evolução média da sociedade ou deixou os filhos em posição social superior à de seus pais?

Segundo a pesquisadora, uma sociedade pode evoluir de modo congelado (todos melhoram ou pioram em conjunto) ou de modo dinâmico, com filhos ocupando postos acima daqueles ocupados por seus pais. “Essas duas respostas contam se o Brasil pretende evoluir como sociedade que oferece oportunidades a todos ou como sociedade na qual a herança familiar e social é mais influente na determinação do futuro profissional de cada criança” destaca a pesquisadora.

Contexto histórico

Ao iniciar seus estudos, a pesquisadora acreditava que a diferença encontrada entre as possibilidades de mobilidade social das pessoas bem nutridas e das pessoas mal nutridas seria bastante acentuada. No entanto, quando comparou a probabilidade de ingresso na universidade entre pessoas bem e mal nutridas, a diferença foi muito menor do que se esperava. Dessa maneira, Larissa constatou que “o estado nutricional não é fator determinante da possibilidade de mobilidade social. É um indicador importante de condição social, que junto a outros indicadores e fatores determinam as condições de mudança de classe”.

Nas análises, percebeu-se que os resultados obtidos variavam de acordo com as décadas estudadas. A partir deste ponto, foi cogitada a importância do contexto histórico. Há períodos referentes a alguns governos em que a nutrição nitidamente foi prioridade, em detrimento da educação. Nessa discussão, Larissa sugere algumas importantes questões para a política do País: “Já que é mais fácil e rápido obter resultados quando se investe em nutrição, como mostrou a pesquisa, os políticos preferem deixar a educação em segundo plano, pois requer mais investimentos e tempo para surgirem os resultados.”

Segundo Larissa, é tempo de aprofundar o olhar a respeito das causas econômicas e políticas intimamente ligadas aos problemas de Nutrição e Educação. Um dos motivos pelos quais decidiu continuar nesta linha de pesquisa foi ter-se espantado com o fato de, no Brasil, o nível de escolarização dos filhos tender a reproduzir o nível de escolarização dos pais, o oposto do ideal de mobilidade social.

“Este trabalho levanta a discussão da situação real de crianças e jovens no País, que está melhorando, mas precisa ainda de mais investimentos na área social. Nutrição é necessidade básica, mas não depende só disso. Quando a preocupação vai estar na qualidade e não apenas na quantidade, nos números?”, concluiu a autora.

O debate sobre o quanto efetivamente a Nutrição relaciona-se com o ingresso do jovem brasileiro ao Ensino Superior, também sugerido na dissertação, concedeu à autora destaque em Portugal, no Segundo Congresso Mundial de Nutrição e Saúde Pública. Dentre as abordagens do artigo premiado, está a queda da porcentagem de adultos-jovens que iniciaram o ensino superior no período 1999-2003 frente ao período 1985-1989, independentes da suas situações nutricionais. Os dados coletados nesta abordagem da pesquisa demonstraram a influência potencial de “fatores contextuais” sobre o nível de escolarização de uma geração, como condição socioeconômica e desigualdade de oportunidades.

O trabalho de Larissa Baraldi foi orientado pelo professor Wolney Conde, da FSP. Mais informações: laribaraldi@gmail.com
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Fonte: Agência USP